sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Sábado - segundo a Enciclopédia ASD

SÁBADO.

Um aspecto distintivo da crença e prática ASD é a observância do sétimo dia da semana como o sábado, do pôr-do-sol de sexta-feira até o pôr-do-sol do sábado, em contraste com a quase universal observância do domingo. Os ASD baseiam sua crença e prática nas explícitas declarações das *Escrituras que separam um dia da semana como dia de descanso, baseados no fato de que o caráter distintivo com o qual Deus investiu o dia jamais é anulado nas Escrituras, na ausência de qualquer transferência escrita da sacracidade do sábado para o domingo ou qualquer afirmação sobre a santidade do domingo, e na falta de qualquer exemplo escrito da observância do primeiro dia da semana como o sábado pelos cristãos do N.T..
A base fundamental para a crença e prática ASD com respeito ao sábado do sétimo dia é o quarto mandamento do Decálogo, a lei moral de Deus, que os ASD consideram como vigentes sobre todos os homens de todas as épocas. A inclusão do sábado com os outros nove preceitos cuja natureza moral não é questionada sugere que o Autor do Decálogo considerava o sábado como investido de qualidade moral e como sendo importante e tão universalmente vigente quanto os outros nove. O fato de os rituais, por exemplo, a circuncisão, o sinal universal do concerto, não estarem incluídos no Decálogo, é argumento conclusivo de que o sábado do sétimo dia não era designado a ser de qualidade ritual e sim moral.
Como razão fundamental para a observância do sábado do sétimo dia, o quarto mandamento do Decálogo cita a criação do mundo.

Em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, ... e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado, e o santificou. (Êx. 20:8-11).
Por essa razão, o homem deve se “lembrar do sábado para o santificar.”
Nas Escrituras, o mandamento para observar o sétimo dia como o sábado é, dessa forma, ligado inseparavelmente ao ato da Criação, sendo a instituição do sábado e o mandamento para observá-lo uma conseqüência direta do ato da Criação. Além disso, a família humana inteira deve sua existência ao ato divino da Criação, tornado-o assim um memorial; portanto, a obrigação de submeter-se ao mandamento do sábado como um memorial do poder criativo de Deus compete a toda a raça humana.
Por sua própria natureza, o sábado é dessa forma universal em tempo e perspectiva. É vigente enquanto as obras das quais ele é memorial existirem, e vigora sobre todos os que foram criados e sobre seus descendentes. O foco do mandamento do sábado está, dessa forma, dentro da órbita do inalterável relacionamento moral do homem com seu Criador e não na mudança das formas rituais pelas quais ele O adora.
O sábado também supre uma necessidade fundamental do homem. Disse nosso Senhor, “O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado” (Mar. 2:27). De acordo com Gên. 2:1-3, o sábado foi instituído no último dia da semana da Criação, quando Deus “descansou . . . de toda a obra que tinha feito. ... E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera. (Gên. 2:2, 3). Em outras palavras, o sábado foi feito para o homem e separado como um dia santo — como o clímax dos atos da Criação.
Desde a semana da Criação, então, o sétimo dia tem sido o sábado do Senhor. Os cristãos geralmente concordam sobre a conveniência de um dia de sábado. Mas o mesmo Criador, e Autor do Decálogo, que ordenou ao homem que guardasse Seu Santo dia, ao mesmo tempo afirmou que esse dia é o sétimo dia da semana. Desse modo, Deus misturou a qualidade sabática com a qualidade semanal do dia de sábado. Isso é tão verdadeiro quanto ao sábado como o é com a união de Adão e Eva juntos como homem e mulher que “portanto, o que Deus uniu, não o separe o homem” (Mat. 19:6).
Na declaração “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado,” Jesus mesmo declarou ser o homem a suprema preocupação do Criador ao ordenar o sétimo dia da semana como o sábado. O homem necessitava o que o sábado lhe concederia: (1) desligamento periódico do que seria um invariável círculo de trabalho, e (2) uma oportunidade de cultivar sua mais elevada natureza como um ser moral inteligente.
Cristo ensinou que o homem não devia considerar-se um escravo preso ao sábado, cujas restrições algemavam-no e o impediam de fazer o que de outra forma seria para o seu bem. Ele deveria olhar o sábado como uma graciosa provisão feita por um Criador Onisciente, a fim de prevenir que ele caísse permanentemente na rotina puramente materialista da preocupação com suas necessidades físicas e, dessa forma, realmente se deturpasse ao nível da criação irracional.
Certamente o homem é uma criatura física, mas, em acréscimo — e acima de tudo — ele é um ser inteligente, moral, responsável, criado à imagem de Deus (Veja Homem, Doutrina do). A principal função do dia de sábado no plano do Criador era prover ao homem uma oportunidade de desenvolver esse aspecto de seu ser, em comunhão com Aquele a cuja imagem fora criado. Isso não devia ser omitido dos seis dias, mas, para que a invariável rotina do labor diário não abafe o mais elevado de sua natureza, o Criador separou cada sétimo dia como um tempo de pausa dos afazeres comuns, e protegeu-o da intrusão de considerações físicas da vida proibindo nesse dia, as atividades comuns da semana. Isso é o que a palavra sábado significa no hebraico — pausa.
O dia devia ser exclusivamente dedicado à nutrição dos aspectos morais e intelectuais do homem, mediante a comunhão com Deus.
De tal ponto de vista, as restrições rabínicas do sábado (Veja SDABC sobre Mar. 2:24; Luc. 6:9; João 5:10, 16-17; 9:6, 14) não eram somente inoportunas mas na realidade prejudiciais. De fato, elas efetivamente frustravam o propósito do Criador ao ordenar o dia de sábado, pois em vez de abrir uma avenida de comunicação entre o homem e seu Criador, deturpavam o mandamento do sábado em uma exigência legalista, tornavam sua observância um fardo e assim erguiam uma barreira intransponível que resultava em um conceito distorcido de Deus. O mesmo ocorre hoje quando o mandamento do sábado é apresentado negativamente, essencialmente como uma proibição de certas atividades.
Somente quando o sábado é entendido positivamente, como uma oportunidade para o desenvolvimento da natureza mais elevada do homem mediante a comunhão com o Criador, seu real propósito é alcançado. As proibições negativas do quarto mandamento, conquanto válidas, não são um fim em si mesmas, e sim um meio necessário para a realização dos valores mais elevados e positivos que um Criador Onisciente conferiu ao sábado. É a esse mais elevado conceito do sábado que Cristo dirige a atenção do cristão na afirmação de que o “sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.” Deus ordenou o sétimo dia da semana como o dia em que o diálogo entre o homem e seu Criador deveria ter lugar.
É presunção do homem negligenciar o dia que Deus separou para esse propósito e substitui-lo por um dia de sua própria escolha — o primeiro dia da semana — pois assim agindo, o homem põe-se acima de Deus. A real questão quanto à observância do sétimo dia da semana versus o primeiro dia da semana é o reconhecimento da reivindicação transcendente do Criador versus a tendência inata de substituir a vontade do Criador pela sua própria — como Lúcifer decidiu fazer no Céu. O princípio representado pelo sábado é o ponto crucial de um conflito milenar entre o bem o mal, entre Cristo e Satanás e entre a verdadeira observância do sábado, em espírito e em verdade; é uma afirmação perpétua de lealdade ao Criador.
I. Teologia Bíblica do Sábado. 1. Considerações Gerais. A santidade do sábado deriva de uma bênção divina (Gên. 2:3), e é significativa somente no contexto humano. A natureza não conhece o sábado e nem os animais o observam (Êx. 20:10). Somente o homem é consciente do sábado. O encontro entre Deus e o homem é essencial ao sábado, no contexto de um tempo divinamente abençoado. O sábado não pode ser transferido para qualquer outro dia, pois nenhum outro dia é o “sétimo dia.” Conclui-se assim que três fatores são essenciais ao sábado: Deus, o homem e o tempo.
2. O Sábado e o Concerto. Deus declarou a Israel que o sábado era um “sinal entre mim e vós . . . ; para que saibais que eu o sou o Senhor, que vos santifica” (Êx. 31:13; Ez. 20:12, 20). Era um “concerto perpétuo” (Êx. 31:16). Está claro também no próprio Decálogo que o significado do sábado deve ser achado em conexão com o concerto, como dado em Deuteronômio, que dá como razão para o sábado a libertação de Israel do Egito (cap. 5:15). A libertação da servidão dá significado à provisão da liberdade dos servos e animais do trabalho aos sábados (“Lembra-te que foste escravo”). Porém, mais importante, como memorial da libertação de Israel da escravidão, ele se torna um sinal de salvação prometido no concerto, um lembrete sempre presente da relação de concerto entre Jeová e Israel. Justamente como o concerto é baseado no amor de Deus por Seu povo (Deut. 7: 7, 8), assim o sábado, como sinal daquele concerto, é um sinal de amor divino.
O Decálogo, em Êxodo, relaciona o sábado não somente à libertação do Egito mas à criação (cap. 20:11 cf. 31:17). Isto concorda com o fato de que, na narrativa de Gên. 1:1 a 2:3, o sábado é o alvo e consumação da Criação. Em vista do fato de a história da Criação ser relatada como pressuposição e prelúdio ao concerto da salvação, e de tal maneira que seja plenamente entendido somente à luz do concerto, podemos dizer que o sábado também, como memorial da Criação, encontra cumprimento somente em termos do concerto.
Teologicamente, a relação do sábado com a Criação é particularmente significativa. Em harmonia com o significado básico do heb. shabath, “cessar,” a decisão de Deus sobre o sétimo dia foi uma pausa de sua obra dos primeiros seis dias, não um descanso para recuperação por cansaço (Is. 40:28). O fato de Deus poder cessar mostra Sua liberdade — que Ele não é uma força cega e ininterrupta da natureza, mas um Deus que em Sua soberana liberdade pode querer criar e parar de criar. Que Deus cessou mostra que Sua obra de criação não estava completa, e Sua satisfação com o que havia feito é mostrada pela declaração “Tudo era muito bom” (Gên. 1:31).
Assim, na Criação, bem como na redenção do Egito, está a implicação de que o sábado é um sinal do amor divino. Sua soberana decisão de cessar a Criação também envolve uma auto-limitação e essa auto-limitação é a essência do concerto. (Gên. 9:11). Portanto, o sábado é tanto o alvo da Criação quanto o ato que torna possível o concerto. Ao mesmo tempo, a ação divina no sétimo dia estabelece o padrão da celebração humana do sábado. É o convite de Deus ao homem para que mantenha comunhão com Ele; o homem não pode participar na obra da Criação original, mas é possível a ele participar do descanso divino.
Por isso, o sábado forma um elo entre a liberdade de Deus e a liberdade que Ele concede ao homem, e, nesse sentido, é um elo entre a história da Criação em Gên. 1:1 a 2:3 e a subseqüente história da redenção. Ao mesmo tempo, é um reconhecimento da parte do homem de que Deus é o Criador e ele é a criatura. Essa distinção constitui a fundação do louvor a Deus.
A ação divina de “santificar” o sétimo dia (Gên. 2:3) significa que o sábado foi separado como um tempo em que esse relacionamento divino-humano pudesse florescer. O ato de “abençoar” o sábado (v. 3) infere que, por sua vez, o sábado torna-se uma bênção para o homem.
3. O Sábado e a Lei. O fato de o sábado estar contido na lei de Deus como o quarto mandamento do Decálogo (Êx. 20:8-11; Deut. 5:12-15) é de especial significado. A lei de Deus é um transcrito de Seu caráter e o mandamento do sábado é o único dos dez que afirma Sua autoridade como Legislador. Isso fala da perpetuidade do sábado. Estando no coração da lei, o sábado é particularmente uma revelação do caráter e amor de Deus. De fato, como já vimos, ele é o único dos Dez Mandamentos que especificamente liga a lei de Deus com o concerto da salvação.
4. O Sábado no Novo Testamento. A centralidade do sábado para o concerto e para a eterna lei de Deus provê a base para sua significância ao cristão. Como é com o concerto, assim é com o sábado: a cruz, sendo o ponto central da história da redenção, confirma a esperança a qual eles apontam, e os impregna do mais completo significado para o cristão (Jer. 31:31-34; Heb. 8:8-12).
O sábado torna-se um símbolo de repouso em que o crente entra pela fé: “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.” “Nós, porém, que cremos, entramos no repouso” (Heb. 4: 9, 3). A referência neste contexto a “outro dia” (v. 8) é paralela à idéia de um “novo concerto” (v. 8). Como o “novo concerto” não é uma inovação cristã, mas é o eterno concerto de salvação em sua plenitude, assim “outro dia” aqui é o sábado eterno de interrupção dos próprios esforços para a salvação, entendido e observado na profundeza da perspectiva cristã — o descanso em Jesus Cristo que emana do cumprimento da promessa do concerto nEle. O sábado é agora um memorial não somente da Criação e da recriação em Cristo. Como o sábado pré-cristão, em termos de concerto, entre os pólos da Criação e a cruz, assim o sábado cristão permanece, em termos do mesmo concerto, entre os pólos da Cruz e do *Segundo Advento.
Isso significa também que o sábado na perspectiva cristã está destituído de todo legalismo. Sua observância, como a dos outros Dez Mandamentos, não pode ser com o propósito de salvação; além disso, o sábado é um ato de regozijo e de ação de graças pelo dom da fé e vida. Ele pode somente ser guardado verdadeiramente pelo cristão como um resultado da salvação. O sábado cristão é, portanto, um deleite e uma celebração de sua entrada no repouso de Cristo Jesus, seu Senhor.
5. O Sábado na Profecia. Em seu entendimento da profecia bíblica, especialmente nos livros de Daniel e Apocalipse, os ASD têm visto a questão da observância do sábado como crucial em nossos dias.
Ao descrever a guerra da ponta pequena contra os santos do Altíssimo, declara-se que esta “pensará em mudar os tempos e a lei” (Dan. 7:25). Identificando a ponta pequena como o Papado, os ASD têm entendido isso como uma sombra da tentativa de substituir a observância do sábado pela observância do domingo.
Semelhantemente, nas profecias de Apoc. 12 e 14, o sábado é entendido como tendo uma parte muito importante. O dragão, representando as forças satânicas arregimentadas contra a Igreja, guerreia contra os “que guardam os mandamentos de Deus” (cap. 12:17). Em tal batalha, a fidelidade ao mandamento do sábado torna-se questão suprema. Esta batalha é refletida novamente nas atividades da besta com aparência de leopardo (cap. 13:1-10) e a besta de dois chifres (vs. 11-17), o primeiro simbolizando o papado e o último os Estados Unidos. O dragão dá “seu poder ao papado, e seu trono e grande autoridade” (v. 2). Por sua vez, a besta de dois chifres, os Estados Unidos, vem a “exercer todo o poder da primeira besta” (v. 12); faz uma “imagem à besta” (v. 14), e é permite-se que ele faça com que todos os que “não adoram a imagem da besta” sejam mortos (v. 15). Ela também “faz com que todos recebam . . . um sinal em sua mão direita ou em suas frontes” com uma “marca, ou número da besta ou o número de seu nome” (vs. 16, 17). Os ASD têm entendido essa passagem como significando que finalmente os Estados Unidos vencerão pela causa do Papado e buscarão reforçar a vontade do Papado. A questão saliente será a observância do domingo no lugar do sábado e todos os que não concordam enfrentarão a penalidade da morte.
Assim, a observância do domingo, no contexto dessa batalha escatológica, constituirá no fim, uma marca distintiva, aqui referida como a marca da besta. Satanás exaltou o domingo como o sinal de sua autoridade, enquanto que o sábado será o grande teste de lealdade a Deus. Essa questão dividirá a Cristandade em duas classes e caracterizará o tempo final para o povo de Deus.
O mesmo tema aparece na terceira mensagem angélica de Apoc. 14, que é um chamado para a perseverança dos santos, os que “guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (v. 12). Aqui, a questão descrita no cap. 13:12-17 é vista no contexto do surgimento do povo ASD, proclamando a cadeia indivisível dos mandamentos de Deus, incluindo o sábado, mas do ponto de vista da fé de Jesus, que é a única estrutura válida de referência para a observância dos mandamentos.
II. História Bíblica do Sábado. 1. Antigo Testamento. A instituição do “sétimo Dia” aparece no início da narrativa bíblica — como o clímax da semana da Criação (Gên. 2:1, 2) — mas o termo “sábado” aparece primeiramente na narrativa do maná, pouco depois do Êxodo e antes da chegada de Israel ao Sinai (Êx. 16: 22, 23). O quarto mandamento do Decálogo estabelece a observância do sábado (Êx. 20:8-11, Deut. 5:14, 15). É também mencionado no código do concerto (Êx. 23:12) e no que tem sido chamado de “Decálogo ritual” (Veja 34:21). De fato, de todos os Dez Mandamentos, o mandamento do sábado é mencionado no Pentateuco mais freqüentemente do que qualquer outro (Êx. 16:23; 20:8-11; 23:12; 31:12-17; 34:21; 35:1-3; Lev. 19:3; 23:1-3; 26:2; Deut. 5: 14, 15).
Durante a história dos reinos israelitas, o sábado é mencionado somente poucas vezes, mas trazendo luz sobre vários aspectos de sua observância. Assim, quando o filho da Sunamita adoeceu e ela pediu a seu esposo um servo e um jumento para que fossem visitar Eliseu (II Reis 4:22, 23), ele replicou: “Por que vais a ele hoje? Não é lua nova nem sábado.” Esta resposta sugere (1) que era costume visitar os profetas no sábado e (2) que uma viagem até um profeta era possível porque os servos e os animais de carga estavam livres de trabalho naquele dia.
Era também no sábado que a guarda do palácio real em Jerusalém era mudada (II Reis 11:5-7), e o Sumo Sacerdote Joiada tirou vantagem desse fato para engendrar um coup d’etat (golpe de estado) contra Atalia, sendo que, naquele tempo, ele poderia ter duas vezes o número de tropas à sua disposição sem atrair atenção. Durante o reinado de Acaz, parece ter havido um espécie de “passadiço coberto para o sábado” (II Reis 16:18) dentro do Palácio. O que era isso e porque foi removido “por causa do rei da Assíria” não se sabe.
Ao mesmo tempo, os profetas estavam clamando contra uma observância formal e hipócrita do sábado. Isaías declarou: “Não posso suportar a iniqüidade associada ao ajuntamento solene” (Is. 1:13). Oséias profetizou: “Farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, os seus sábados e todas as suas solenidades” (Ose. 2:11). Amós ferozmente parodiou seus contemporâneos: “Quando passará a lua nova, para vendermos o grão? e o sábado para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa e aumentando o ciclo, e procedendo dolosamente com balanças enganadoras?” (Amós 8:5). Essas palavras também sugerem que as lojas eram regularmente fechadas aos sábados. Jeremias enfatizou a importância da observância do sábado se Jerusalém quisesse ser salva, e sugeriu que, em gerações anteriores, o sábado não tinha sido respeitado pelos Israelitas (Jer. 17: 21-27).
A publicação por D. J. Wiseman em 1956 de algumas crônicas cuneiformes dos reis caldeus do Império Neo-Babilônico forneceu uma data específica para a captura de Jerusalém e do Rei Jeoaquim por Nabucodonosor — o segundo dia do mês de Adar, que é, com muita probabilidade, o dia 16 de março de 597 a.C.. Alguns anos após a publicação, reconheceu-se que essa data caiu no dia de sábado. Parece também, de um cômputo semelhante, que o fim do cerco de Jerusalém sob Zedequias possivelmente tenha ocorrido em um sábado.
Essas observações levaram à conclusão de que Nabucodonosor, como Antíoco Epifânio, pode ter feito questão especial de atacar os judeus no dia de sábado porque podem não ter resistido naquele dia. Isso não pode ser provado como certeza de evidência primária, mas a conclusão permanece como uma possibilidade distinta.
Com a vinda do Exílio, Ezequiel repetidamente apontou a negligência do sábado como uma indicação da apostasia de Israel (Ez. 22:8, 26; 23:38; 20:12-24). Ao mesmo tempo que ansiava por ver seu ideal, restaurou o Templo a uma perfeita obediência do sábado (Ez. 44:24; 45:17; 46:1-12).
Essa ênfase sobre o sábado como uma chave de indicação da aderência de Israel ao concerto de Jeová, em ambas as denúncias de Jeremias antes do Exílio e de Ezequiel durante ele, é refletida na estrita preocupação pela observância do sábado evidenciada por Neemias após a nação ser restaurada.
Na oração pública de Esdras perante o povo, o sábado é especificamente mencionado: “O teu sábado lhes fizeste conhecer: preceitos, estatutos e lei, por intermédio de Moisés teu servo, lhes mandaste” (Neem. 9:14). O concerto escrito que Neemias e os líderes dos judeus selaram publicamente incluía um penhor de que não deveriam comprar nada do povo da terra no dia de sábado (cap. 10:31). O relato da reforma de Neemias nos conta com detalhes posteriores de como ele reforçou essa fiança: Quando ele observou os homens esmagando a uva, colhendo grãos e frutos e trazendo-os a Jerusalém no sábado, bem como estrangeiros trazendo e vendendo peixes e outras mercadorias, ele proibiu isto com a advertência de que em assim fazendo, eles trariam “ira maior sobre Israel, profanando o sábado” (Neem. 13:18). Conseqüentemente, ele ordenou que os portões de Jerusalém fossem fechados no início do sábado e não deveriam ser abertos até que o dia passasse. Em acréscimo, colocou guardas nos portões para que essa restrição fosse reforçada (vv. 19-22).
O Salmo 92, de autoria e data incertas é intitulado “Um Salmo ou Canção Para o Dia de Sábado.” É um Salmo de ação de graças e louvor, enaltecendo o constante amor e fidelidade de Deus. Ele reflete o deleite dos judeus no sábado e mostra que, na melhor das hipóteses, a observância do sábado era uma ocasião de alegria, ação de graças e exultação. A posição do sábado era também refletida nos serviços do *Santuário, onde era marcado pelas ofertas especiais e pelo ritual. Dois cordeiros extras, acompanhando a comida e ofertas de bebidas, eram acrescentados à oferta queimada regular (Núm. 28:9, 10), e nesse dia, os pães da proposição eram substituídos (Lev. 24:8).
2. O Período Intertestamentário. As tendências rumo à estrita observância do sábado, que começaram a se desenvolver durante e após o Exílio (Ezequiel, Esdras e Neemias), tornaram-se particularmente acentuadas durante o período intertestamentário e que mais tarde alcançaram sua formulação clássica no Mishnah (terceiro século A.D.). Os desenvolvimentos do período intertestamentário são particularmente significativos para o entendimento do sábado no N.T. e na Igreja primitiva.
(a) Prática judaica em Elefantina, Egito. No primeiro século a.C., uma colônia de soldados mercenários judeus que viviam na Ilha de Elefantina no Alto Egito. Cedo no vigésimo século, uma coleção de antigos papiros, e mais tarde mais papiros e também óstracos (cacos de cerâmica) inscritos, foram encontrados ali. Esses foram escritos na língua e escrita aramaica usados pelos judeus daquele período — o tempo de Esdras e Neemias — e muitos foram datados naquele tempo. Esses textos dão uma idéia da vida na colônia de Elefantina e revelam que esses judeus misturavam a idolatria com o louvor ao verdadeiro Deus.
Por isso e por não ser mencionado o sábado em nenhum papiro, muitos eruditos criam que os judeus de Elefantina provavelmente não observavam o sábado como dia de descanso. Porém, quando os óstracos foram estudados, na década de 1940, descobriu-se que quatro deles mencionavam especificamente o sábado como dia de descanso. Por exemplo, um (tendo o número 152 dado pelo escavador) começa com essas palavras: “Saudações a Yislah. Olhe, não enviarei o jarro amanhã. Prenda o gado amanhã, no sábado, para que eles não fujam. Viva Jeová!” (publicado por A. Dupont-Sommer na França). É possível que alguns desses judeus de Elefantina tenham acolhido as reformas de Esdras e Neemias, que envolviam uma observância mais restrita do sábado (Neem. 10:31; 13:15-22). Por outro lado, judeus idólatras provavelmente tinham pouca ou nenhuma consideração para com o sábado.
(b) Problema da Defesa do Sábado. Repetidamente durante esse período, os judeus enfrentaram a mesma questão que aparentemente enfrentaram nos dias de Nabucodonosor: Lutariam no sábado ou não? Agatharcides (2o século a.C.) é citado por Josefo pelo registro de que, por volta do ano 300 a.C., Ptolomeu I escolheu ocupar Jerusalém no sábado porque os judeus não lutariam naquele dia.
Esse problema agravou-se durante a rebelião dos Macabeus (168-142 a.C.). No início dessa guerra, um grupo de judeus revoltosos se refugiaram com suas famílias nas cavernas do Deserto Judeu.
Os sírios perseguiram-nos e os atacaram no sábado; os judeus se recusaram a resistir e foram mortos. À luz de tal experiência, Matatias, o líder da revolta e seus colegas posteriormente lutaram no sábado, mas somente quando atacados.
Esse problema apareceu novamente em 63 a.C., quando o general romano Pompeu marchou sobre Jerusalém. Sabendo da recusa dos judeus de guerrear no sábado exceto em autodefesa, os romanos usaram esse dia para erguer trincheiras contra os muros da cidade, que os judeus nada fariam para os deter. Após um sítio de três meses, Pompeu estava apto a tomar a cidade no sábado. Novamente em 37 a.C., quando os romanos tomaram Jerusalém de Antígono a fim de entronizar Herodes o Grande, foi num sábado que a resistência final foi suprimida.
Desde o tempo de Júlio César em diante, as autoridade romanas repetidamente publicaram editos concedendo aos judeus o direito de viver em suas próprias terras e isentando-os do serviço militar e de processos legais no sábado.
(c) Os Essênios. Provavelmente a mais estrita observância do sábado durante esse período seja encontrada entre os Essênios. Josefo escreve sobre eles:

Eles são mais estritos do que quaisquer outros judeus em descansar de seus labores no sétimo dia; pois eles não só preparam suas refeições no dia anterior, para que não sejam obrigados a acenderem o fogo naquele dia, como não removerão qualquer vaso ... para evacuar (Josefo, Guerra ii. 8, 9).
A proibição de remover “qualquer vaso” no sábado parece indicar uma rejeição da provisão farisaica do ‘erub — um procedimento casual pelo qual os objetos podiam ser movidos no sábado. Essa tendência dos Essênios de observarem o sábado mais rigorosamente do que quaisquer outros judeus é refletida também no Documento Zadoquita, que, se não for Essênio, pelo menos está intimamente ligado àquela espécie de judaísmo sectário.
Ali, proibia-se o seguinte no sábado: conversação frívola, cobrança de dívidas, ações jurídicas, planejamento ou preparação para futuro trabalho, andar mais de 1.000 côvados (cerca de 5 km) fora da cidade, comer comida não preparada anteriormente, a não ser em viagens, usar roupa suja ou realizar um jejum voluntário. Especialmente a respeito de animais, as restrições eram específicas; o gado não deveria ser levado para mais de 2.000 côvados (10 km) fora da cidade para pastar, não deveria ser surrado com a mão nem forçado a sair das portas nem ajudado a parir. Mesmo se o novilho caísse em um buraco, não devia ser retirado. Aqui o mais extremo caráter das restrições sectárias é evidente como comparado com as dos fariseus refletidas em Mat. 12:11.
Semelhantemente a prática do ‘erub é proibida. Ninguém deveria mover um objeto de sua casa ou trazer algum para dentro. As atividades domésticas em geral eram no mínimo: não abrir um jarro fechado, varrer o chão ou carregar bebês. Os escravos e jornaleiros não deviam ser forçados a trabalhar, e o contrato de gentios para tomar conta do negócio de alguém no sábado era especificamente proibido. Muitas dessas leis são similares àquelas normativas do judaísmo, mas muitas são mais estritas.
(d) O Seguidores de Hillel e Shamai. Outra área de diferença na prática do sábado, no tempo de Herodes, o Grande, era aquela entre os seguidores de Hillel e os de Shamai, dois preeminentes mestres fariseus que representavam tendências liberais e conservadoras na interpretação da lei. Assim, por exemplo, os Shamaítas proibiam o montar armadilhas se o caçador não estivesse certo de que sua presa seria caçada antes do início do sábado; os Hillelitas, porém, permitiam qualquer atividade enquanto o sábado não se iniciasse.
(e) Regulamentos do Sábado no Mishnah. A expressão clássica dos regulamentos do sábado judeu são encontradas no Mishnah, e particularmente nos tratados Shabbath e ‘Erubin. Aqui são encontradas enumerações detalhadas sobre que tipos de tarefas poderiam ou não ser realizadas no sábado, que cargas podiam ou não ser levadas, quão longe alguém poderia viajar e, em um tratado posterior, regras elaboradas tornando possível a transferência de bens de um lugar privado a um público. Muito desse tratado Shabbath está preocupado com os Trinta e Nove Labores Primários proibidos no sábado, e a derivação dessas regras subsidiárias pelos detalhes da vida.
Embora essas regras não alcancem sua formulação atual até o terceiro século A.D., várias de suas provisões são refletidas em incidentes descritos no N.T.. Assim, a denúncia contra os discípulos de Jesus de que eles transgrediam o sábado ao colher trigo, tirar a casca e comê-lo (Mat. 12:1-8; Mar. 2:23-28; Luc. 6:1-5), parece estar relacionada a dois dos Trinta e Nove Labores Primários, colheita e debulha de grãos.
A resposta de Jesus ao fariseu da sinagoga que O criticou por curar a mulher possessa no sábado foi: “Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoura no sábado o seu boi ou o seu jumentinho para levá-lo a beber?” (Luc. 13:15). Isto tem um paralelo no tratado de Shabbath por uma série de condições sob as quais os animais podiam ser levados para fora no sábado.
A condenação do paralítico curado por carregar sua cama no sábado está relacionada a outro dos Trinta e Nove Labores Primários: a da remoção de um objeto de um lugar a outro. A referência de Jesus à permissão da circuncisão (João 7:22) é paralela pela provisão geral de todas as coisas necessárias para a circuncisão ser legal no sábado.
Ao mesmo tempo, em alguns casos, as atitudes dos judeus refletidas nos Evangelhos parecem mais severas do que aquelas encontradas no judaísmo clássico. Portanto, como W. O. E. Oesterly ressaltou, a repetida crítica a Jesus por curar no sábado (Mat. 12:9-13; Luc. 14:1-6; João 5:1-16) parece não estar em harmonia com as provisões feitas no Mishnah, permitindo certos procedimentos de cura, embora essa aparente diferença possa possivelmente ser explicada pelo fato de as curas de Jesus terem sido realizadas em casos crônicos.
Mais impressionante ainda é a abstenção das mulheres de embalsamar o corpo de Jesus no sábado (Luc. 23:54-56), que reflete uma prática mais estrita do que aquela permitida no Mishnah. O último declara: “Todas as exigências dos mortos podem ser feitas [no sábado]; ele poderá ser ungido com óleo e lavado” (Shabbath 23.5).
3. Novo Testamento. (a) Jesus e o Sábado. Os Evangelhos contêm quatro declarações de Jesus a respeito do sábado: Mar. 2:27, 28 (Mat. 12:8; Luc. 6:5); Mar. 3:4 (Mat. 12:12; Luc. 6:9); Mat. 12:11, 12; Luc. 14:5. Em Mar. 2:27, 28, a declaração “O sábado foi estabelecido por causa do homem e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado” é a resposta de Jesus à denúncia dos fariseus de que Seus discípulos transgrediam o sábado colhendo o grão. Nem com essas palavras nem em Seu apelo ao exemplo de Davi ao comer os pães da proposição. Jesus declara que os Seus discípulos não tinham transgredido o sábado, tanto quanto o ponto de vista dos judeus estava em questão. Antes, nas palavras de Mateus, Ele os declara inocentes em vista do propósito subjacente do sábado — o bem-estar do homem. Isso, nenhuma proibição sabática pode anular.
Mais tarde, no segundo século, um dito rabínico reza: “O sábado vos é dado; não sois dados acima do sábado.” Este ditado, porém, é dirigido somente às situações em que a vida esteja em perigo, enquanto Jesus toma como critério Seu o esboço completo do bem-estar humano.
Em cada milagre de Jesus, o pensamento básico é o mesmo: “É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? salvar uma vida ou tirá-la” (Mar. 3:4). Isso, no contexto do fato de que as curas sabáticas de Jesus registradas foram consistentemente realizadas em casos crônicos e que não estavam em perigo de morte (Mar. 3:1-5; Luc. 13:10-17; 14:1-6; João 5:1-15; 9:1-17), leva à conclusão de que nessas ações, uma dimensão mais profunda do que meramente uma cura física está envolvida.
O encontro com Jesus era uma questão de vida ou morte. Se, como os judeus reconheciam, o sábado poderia ser “transgredido” com o objetivo de salvar uma vida, então cada encontro com Jesus, cada cura, se em caso crônico ou não, era uma questão de vida que nenhuma proibição sabática poderia transpor. Portanto, quando condenado por curar um homem já enfermo por 38 anos, Ele poderia responder: “Meu pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” (João 5:17 ).
Do ponto de vista de seu contexto imediato, as disputas de Jesus com os fariseus quanto ao sábado parecem ter sido tentativas de trazer uma preocupação mais humanitária para vigorar sobre as leis do sábado, e uma perspectiva mais profunda do propósito básico do sábado. O costume de Jesus de ir à sinagoga aos sábados (Mar. 1:21; 6:2; Luc. 4:16, 31; 13:10) e participar em seus serviços demonstra Sua atitude positiva para com essa instituição como um tempo de adoração.
(b) Paulo e o Sábado. A única referência direta de Paulo ao sábado está em Colossenses 2:16, 17: “Ninguém, pois, vos julgue por causa da comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das cousas que haviam de vir, porém o corpo é de Cristo.”
Alguns comentaristas têm sugerido que Paulo aqui não fala de um sábado “cerimonial” ou festa anual. Eles inferem isso da seqüência “dia de festa ou lua nova” (v. 16) representando os dias anuais, mensais, semanais de observância, uma seqüência de termos (ou inversão) que ocorre freqüentemente no A.T. (II Crôn. 2:4; 8:13; Neem. 10:33; Ez. 45:17; Os. 2:11). Posteriormente, eles ressaltam que os sábados cerimoniais já estão incluídos no termo “dia de festa” (heb. mô’ed; gr. heorte). É verdade que, como observadas pelos judeus, certas exigências rituais eram prescritas para o sábado semanal (Núm. 28:9, 10; etc.). Em acréscimo, um longa lista de proibições rabínicas foi posteriormente adicionada à sua observância. Portanto, mesmo entendendo-se que Paulo aqui se refere ao sábado semanal, sua preocupação seria com a observância ritual do dia como parte do conceito rabínico de obras de justiça. Mesmo nos tempos do A.T., tal observância do sábado era repugnante a Deus (Is. 1: 11-15).
Mas o sábado antedatava o sistema ritualístico e era basicamente moral em natureza. Sua inclusão posterior dentro da estrutura do sistema ritualístico — de fato não poderia — não o destituiu de sua qualidade moral perpétua, e, quando as observâncias rituais ligadas à observância do sábado nos tempos do A.T. perderam sua validade na cruz, sua qualidade moral básica e a obrigação moral de observá-lo permaneceram.
Os ASD porém têm geralmente mantido a posição de que, sendo que o contexto trata de questões rituais, os sábados aqui referidos são sábados cerimoniais das festas judaicas anuais “que são sombra,” ou tipo dos cumprimentos que deveriam vir em Cristo; que embora a seqüência dos termos podem parecer classificar o sábado com os dias santos cerimoniais, a forma retórica não pode superar os fatos estabelecidos em outro lugar na Bíblia, que os tipos e símbolos que se estendiam somente até Cristo não incluem o sábado do Decálogo.
Uma passagem intimamente relacionada a Col. 2:16 é Gál. 4:10: “Guardais dias, e meses, e tempos, e anos! Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco”. O contexto dessa passagem, referindo-se à escravidão dos gálatas aos “rudimentos do mundo” (v 3, 9), bem como Col. 2:18, que fala do “culto dos anjos” dos Colossenses, levou muitos eruditos a associarem essas heresias com algum tipo de judaísmo sectário similar ao de Qumrân, em vez de ao judaísmo normativo.
Em certas partes da literatura de Qumrân (Jubileus, I Enoque), muito é dedicado aos anjos, e particularmente a anjos caídos, que são entendidos como dominando o mundo pagão. Anjos, ambos bons e maus, também eram identificados com as estrelas (ou planetas). Há ampla evidência de que na primeira parte do primeiro século, a veneração dos planetas era bem difundida entre os judeus. W. Rordorf argumentou convincentemente de que do primeiro século a.C. em diante, Saturno, considerado uma estrela infeliz, estava associado em muitas mentes judaicas à celebração do sábado (Der Sonntag, p. 24, 28, 32, 34). Tudo isso aponta para a conclusão de que as declarações de Paulo a respeito da observância de dias devem provavelmente ser entendidas no contexto de um legalismo judaizante revestido com uma veneração sectária e anômala de anjos e dos corpos celestes.
Em suas viagens evangelísticas, Paulo seguiu a prática de freqüentar sinagogas judaicas (At. 13:14; 14:1; 16:13; 17:1, 2, 10, 17, 18:4, 19; 19:8). Onde quer que houvesse uma comunidade judaica ou sinagoga, ali ele ia para pregar Cristo. Somente quando os judeus recusavam tolerá-lo, ele mudava sua atuação para outro lugar (At. 18:6, 7; 19:8, 9). A natureza do serviço da sinagoga, na qual os rabis visitantes eram freqüentemente convidados a participar na leitura das Escrituras e no sermão, representava uma oportunidade ideal para ele (At. 13:14-41), como foi para Jesus (Luc. 4:16). Com essa atitude, ele parece ter seguido o exemplo do próprio Jesus. (A consciência de Lucas sobre isso é provavelmente refletida em sua fraseologia quase idêntica em Luc. 4:16 e At. 17:2). Justamente como a atitude de Jesus inferiu uma aprovação Sua quando à adoração sabática, assim foi com Paulo.
(c) O Dia do Senhor no Apocalipse. João, o revelador, declara que sua visão inicial foi dada quando “ele estava em Espírito no dia do Senhor” (Apoc. 1:10). Os ASD têm entendido isso como um referência ao sábado porque: (1) é um expressão única nas Escrituras, onde o único dia identificado com o Senhor é o sábado (Is. 58:13; Mar. 2:28); (2) a referência mais anterior e inequívoca ao “dia do Senhor” como o domingo não aparece antes do fim do segundo século (no Evangelho Apócrifo Segundo Pedro, 9, 12).
III. Teorias Sobre a Origem do Sábado. A título de informação, incluímos a seguinte discussão e avaliação das teorias atuais sobre a origem do sábado.
Seguem-se as principais teorias sobre a origem do sábado na história de Israel:
1. A Teoria Babilônica. Tem sido freqüentemente proposto o conceito de que o sábado derivou de práticas babilônicas reveladas em documentos cuneiformes e particularmente em ligação à palavra babilônica sapattu.
Um século atrás, Henry Rawlinson publicou um texto babilônico alistando sinônimos em colunas paralelas: aqui sapattu é definida como ûm nûh libbi, um dia de descanso do coração [dos deuses]. A palavra também aparece no épico da Criação, onde se refere ao dia da lua cheia no meio do mês lunar. Seu uso é atestado em uma carta tão antiga quanto a Primeira Dinastia Babilônica (século dezoito a.C.): “A lua [nova], o sétimo dia e a lua cheia [sa-pa-at-ta-am] completos como te foi mostrado” (E. G. Kraeling, American Journal of Semitic Languages and Literatures, abril de 1933).
Em outro tablete lexicográfico, o termo sapattu é aplicado semelhantemente ao décimo-quinto dia do mês. Neste dia, o rei devia observar várias proibições: ele não deveria andar em carruagens, aparecer publicamente, comer carne cozida ou vestir vestidos brancos — para que os deuses não se desagradassem. Portanto, o babilônico sapattu era um dia desagradável em que os deuses deviam ser apaziguados.
Outro tablete babilônico lista os dias do mês intermediário de Segundo Elul, nomeando o deus para o qual cada dia do mês era sagrado e as liturgias realizadas naquele dia. Nos dias 7, 14, 15, 21 e 28 do mês, o rei devia observar as mesmas restrições de atividade como no sapattu. A muitos pareceu lógico concluir que em vista desses dias repetidos em que o rei descansava de suas atividades comuns em um ciclo de aproximadamente sete dias, o sábado hebraico tinha sua origem na prática religiosa babilônica.
Um engenhosa variação dessa teoria, ideada por Johannes Meinhold (Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft, abril de 1909 e junho de 1930), atraiu considerável atenção. Reconhecendo que sapattu, como o dia 15 do mês lunar, era de lua cheia, e que “a lua nova e o sábado” aparecem juntos repetidamente no A.T. (II Reis 4:23; Is. 1:13; Os. 2:11; Amós 8:5), Meinhold propõe o conceito de que o sábado entre os Israelitas era originalmente uma festa mensal no dia de lua cheia mais do que uma festa realizada de sete em sete dias. Em um ponto, antes do Exílio, ele vê os israelitas tendo começado a celebrar um dia de descanso semanal durante o tempo de colheita (Êx. 34:21) e eventualmente estendendo a prática o ano todo. Ele pensa que finalmente, talvez sob Neemias, o nome “sábado” tenha sido transferido do festival mensal para o semanal.
Essa reconstrução é insustentável por várias razões: não há nenhuma evidência convincente de que os israelitas já tivessem chamado sua festa de lua cheia de sábado (a palavra hebraica para isso é kese’, como em Sal. 81: 3). A transferência de um nome de uma festa lunar a um ciclo semanal é dificilmente provável, e a pesquisa tem levado à conclusão de que o sábado semanal pode ser traçado muito antes para adequar-se à teoria de Meinhold. Posteriormente, a repetição da menção de lua nova e sábado juntos é suficientemente explicada pelo fato de que essas duas festas, diferente das outras, não eram anuais.
Enquanto o babilônico sapattu possa estar relacionado de alguma maneira indireta ao sábado hebraico, tem-se ressaltado repetidamente em caráter e prática, as duas instituições são quase diametralmente opostas.
O sábado hebraico era dedicado sempre a Jeová; as restrições postas a toda a população e não somente ao líder; o sábado não era um dia infeliz em que Jeová deveria receber sacrifícios (embora como North ressaltou, pode haver, sem dúvida, alguma conexão entre essas idéias e a da santidade). Não há nada de tabu nas restrições hebraicas do sábado.
O sábado hebraico não era uma festa lunar, computada nos termos do mês lunar como o eram os dias babilônicos da proibição, mas era inteiramente livre da contagem lunar e ocorria com completa independência do mesmo ciclo mensal. Nenhuma prova está disponível de que o termo ‘sapattu aplicava-se ao décimo quinto dia ou tenha sido usado para os dias infelizes no ciclo semanal babilônico; nem foi estabelecida uma clara relação etimológica entre o hebraico Shabbath e o babilônico sapattu.
Portanto, é claro que quaisquer interelações históricas que possa ter havido entre essas duas instituições, o sábado hebraico, em sua observância e em seu mais profundo significado, permanece completamente separado de seu paralelo babilônico. Ele deve ser entendido inteiramente do ponto de vista da fé e do concerto com Deus que Israel possuía.
2. A Explicação do Dia de Negócios. Uma explicação sociológica da origem do sábado foi promovida por Max Weber (Aufsätze zur Religionssoziologie III [1921], 159 f.), Eduard Meyer (Geschichte des Altertums II2, 2, 318 f.; ambos citados por Kraeling, op. cit., 226-228), e outros. Eles vêem o ciclo de sete dias como uma semana de compras e apontam para Amós 8:5 e Neem. 13:15 como indicativos de tentativas para aumentar a observância religiosa do sábado às expensas de sua função original como dia de negócios. Essa explicação não é plausível, porém, porque não há nenhuma clara evidência de uma semana de negócios na Palestina, e as passagens citadas podem muito bem ser igualmente tomadas como significando que negócios no sábado eram uma inovação em face a uma proibição original contra ele.
3. A Teoria do Calendário. Foi apresentada uma explicação baseada em um calendário por Julius e Hildegard Lewy (Hebrew Union College Annual, 17:1-152, 1942-43) e popularizado por Julian Morgenstern (Vetus Testamentum, 5:344-76, janeiro de 1955 e especialmente “Sábado,” Interpreter’s Dictionary of the Bible [ N.Y., 1962], IV, 135-137). Eles propõem um calendário essencialmente agrícola como tendo sido usado vastamente na Mesopotâmia, Síria, Palestina e Capadócia, particularmente o segundo milênio a.C.. Supostamente, esse calendário dividia o ano em sete hamustu, ou cinqüenta,” i. e., períodos de 50 dias cada, que Lewy chamou de “qüinquagésimos.” Cada qüinquagésimo consistia, portanto, de sete semanas mais um dia, sendo que esse ficava fora do ciclo semanal e interrompendo regularmente sua continuidade. A fim de coordená-lo com o ano solar, que era essencial aos propósitos agrícolas, na Palestina, dois períodos de sete dias cada devem ter sido intercalados (um imediatamente após o quarto qüinquagésimo, e outro ao sétimo), mais um dia sagrado adicional. Esses são descritos como períodos de festas, consistindo de dias sagrados (sendo o segundo período a Festa dos Pães Asmos). Um qüinquagésimo eles vêem refletidos em Lev. 23:9-21, “no dia imediato ao sábado” (vv. 11, 15) sendo o Ano Novo seguindo os sete últimos dias do ano (dias dos Pães Asmos); o qüinquagésimo dia, “o imediato após o sábado,” (v. 16), no qual os primeiros frutos era oferecidos, seria a festa no fim do período qüinqüagesimal do ano novo.
Morgenstern vê esse calendário, baseado no número sete como uma repetição (embora em sete) de um ciclo de sete dias, como a situação em que ambos os sábados, hebraico e o sapattu babilônico surgiram, embora independentes um do outro.
A teoria do calendário qüinqüagesimal não obteve grande aceitação. Ela falha em demonstrar como o ciclo semanal supostamente interrompido tornou-se uma ciclo ininterrupto e independente de qualquer cômputo lunar ou solar. Porém, investigação posterior mostrou que os períodos hamustu, nos quais a idéia qüinqüagesimal é baseada, não poderiam ter sido tão longos quanto 50 dias.
4. A Teoria Quenita. Outros estudiosos têm buscado a origem do sábado em relação aos sete planetas (i. e., os cinco visíveis antepassados mais o sol e a lua), e particularmente em um suposto culto a Saturno. Amós 5:25, 26 é entendido como significando que tão antigamente quanto o período no deserto, os hebreus já adoravam um deus estrela. O contexto de tal culto, eles encontram nos queneus, um ramo do midianitas entre os quais Moisés se estabeleceu em sua fuga do Egito (Êx. 2:15: Juí. 1:16), e onde — de acordo com essa teoria — ele adorou pela primeira vez a Yahweh (Êx. 3:15; 6:2, 3).
Esses queneus encontraram-se com Israel no deserto (Êx. 18), e viveram com eles até Canaã (Jui. 1:16; 4:170) onde seus descendentes, os recabitas (I Crôn. 2:55), aparecem ambos nos tempos de Jeú (II Reis 10:23) e Jeremias (Jer. 35) como zelosos adoradores de Yahweh e conservadores do estilo primitivo de vida no deserto.
Os que defendem essa segunda teoria identificam o nome queneu com o nome Caim, que, em aramaico e árabe significa “ferreiro” (citando Gên. 4:22, onde um dos descendentes de Caim, Tubal-Caim, diz-se ter sido ferreiro; também Jael, cujo marido era queneu e que estava em possessão de um martelo; Juí. 4:17). Isso, por sua vez, relacionam a Êx. 35:3, onde é particularmente proibido acender fogo no sábado, e a Núm. 15:32, onde um homem é executado por ajuntar gravetos no sábado (para acender fogo). Se os queneus eram ferreiros, conclui-se que a proibição de acender fogo seria equivalente a uma proibição de trabalho. Todas essas evidências são interrelacionadas a fim de sugerir que os queneus eram uma tribo midianita de ferreiros que adoravam a Saturno e como parte dessa adoração, abstinham-se do trabalho no sétimo dia, que, como dia de Saturno, era considerado um dia infeliz.
Essa teoria, até onde ela se relaciona ao culto a Saturno, é dificilmente convincente, porque não oferece nenhuma prova para sua premissa básica, de que os queneus eram adoradores de Saturno, nem que uma semana planetária (mesmo uma semana ligada a somente um planeta) tenha existido tão cedo. Na realidade, não somente não há nenhuma prova segura para a semana planetária antes do primeiro século da Era Cristã, mas a evidência é contra sua existência anterior ao período helenístico.
Intrigante como muitos possam achar o pensamento de que a ligação de Moisés com os midianitas possa ter tido influência significativa sobre a religião e lei de Israel promulgadas por ele, a explicação de Rowley repousa em teorias de história e literatura para as quais não há evidência.
5. Avaliação das Teorias. Os ASD rejeitam as teorias acima que tentam achar a origem do sábado em um contexto de história social e religiosa do Antigo Oriente Próximo e apontam para a instituição divina do sétimo dia da semana da Criação.
IV. O Sábado na História da Igreja. 1. Nos Séculos Primitivos. Assume-se por quase todos os cristãos modernos que desde os tempos apostólicos, se não desde a ressurreição de Cristo, o domingo substituiu o sábado. Porém, as referências do N.T. ao primeiro dia da semana não têm essa conclusão.
A introdução do domingo como um dia de comemoração da ressurreição de Cristo não impede a continuidade da observância do sábado; de fato, os cristãos primitivos observavam o sábado como questão de costume, e alguns cristãos mais tarde adotaram o domingo também, observando a ambos. A celebração de ambos os dias paralelamente é atestada por séculos após começar a observância do domingo.
Mesmo que o domingo tenha sido um dia preeminente de observância religiosa, pelo menos no fim do segundo século e talvez antes, a princípio ele não era celebrado como um “sábado.” As reuniões de domingo eram realizadas em honra à Criação do mundo, a ressurreição de Cristo e o “oitavo dia da circuncisão” do pecado do cristão, mas não em obediência ao quarto mandamento.
As verdades do N.T. foram rapidamente distorcidas na Igreja primitiva. A justificação pelas obras abriu caminho ao legalismo no segundo século, e as doutrinas da natureza do homem, a natureza de Cristo e a autoridade das Escrituras eram seriamente deformadas. O sábado, designado a ser um memorial do poder criador e redentor de Deus, sofreu também. Paulo escreveu que “o mistério da iniqüidade “ já estava em operação e a evidência dos escritores cristãos primitivos confirma seu relatório. Sendo que a verdade sobre o sábado deve ser encontrada na Bíblia e não na tradição, nem as declarações nem as práticas dos cristãos primitivos fora da Bíblia podem alterar sua autoridade vigente para os homens hoje.
A informação dos documentos daquele período quanto à prática dos cristãos nos séculos primitivos da observância do sábado ou do domingo é extremamente limitada e dispersa, e qualquer interpretação de dados deve permanecer como simples tentativa. Nenhuma rejeita a possibilidade de que no segundo e terceiro séculos, grandes grupos de cristãos não-judeus observavam o sábado de acordo com o mandamento e com o Evangelho; documentos existentes não aprovam nem desaprovam isso.
Os cristãos que não guardavam o sábado, mesmo já no segundo século, escreviam contra ele. Os cristãos hereges que desde 140 a.C. adotaram o gnosticismo, consideravam o sábado como um memorial do Deus do A.T., um Deus a quem alguns gnósticos consideravam ser mau. Outros hereges preeminentes, os Montanistas, que surgiram na Ásia Menor aproximadamente em 175 A.D., parecem ter ignorado o sábado, a despeito de seu entusiasmo pela reforma espiritual.
Na igreja, havia também alguns que desprezavam o sábado. Justino, o Mártir (c. 150), de Roma, alegava que ele tinha sido dado somente aos judeus, porque esses eram notoriamente duros de coração. Irineu (c. 185) considerava o mandamento do sábado como desnecessário para os cristãos, bem como para Abraão e outros patriarcas anteriores a Moisés.
No Norte da África, no início do terceiro século, Tertuliano ecoou Justino e Irineu. Na Síria, em meados do século, o Didascalia Apostolorum ordenou que os judeus conversos ao cristianismo abandonassem o sábado como parte da legislação mosaica e que foi abolida em Cristo. Em Pettau, no fim do século, Victorinus incitava seus leitores a jejuarem no sábado a fim de evitar qualquer similaridade com a observância dos judeus. Cristo, declarava ele, odiava o sábado e o aboliu.
Uma declaração apócrifa atribuída a Cristo aparece no Papiro Oxyrhynchus 1, publicado na década de 1890: “A menos que guardeis o sábado, não vereis ao Pai.” (Veja Bernard P. Grenfell e Arthur S. Hunt, Papiro Oxyrhynchus 1, parte 1, pp. 1-3). O mesmo ditado foi encontrado em Chenosboskion, Egito, por volta de 1945, incorporado ao Evangelho Gnóstico de Tomé (A. Guilaumont e outros, O Evangelho Segundo Tomé, p. 19). Eruditos geralmente defendem que a declaração se originou pelo menos em 140 A.D.. Se, como os indicadores sugerem, a declaração surgiu entre as congregações judaico-cristãs na Síria, mostraria um forte respeito pelo sábado entre os cristãos. Por outro lado, sua ocorrência no Evangelho de Tomé é de significado histórico duvidoso, porque os gnósticos tinham uma notável facilidade de alegorizar as mais claras escrituras. O mesmo é verdade sobre a declaração no segundo século, em O Evangelho da Verdade, também encontrado em Chenoboskion, aproximadamente em 1945, de que o sábado é o dia “em que a salvação não deveria estar ociosa,” por causa da forte possibilidade de que ele tenha surgido entre os gnósticos Valentinos, que também espiritualizavam as Escrituras.
Justino, o Mártir, que foi o primeiro escritor de que se tem notícia a mencionar a adoração semanal no domingo, fala de modo degradante em Diálogos Com Tripho (cap. 42) dos cristãos judeus e de seus conversos que observavam o sábado. Tertuliano, no século seguinte, menciona os que insistiam em mostrar o mesmo respeito ao sábado que ao domingo permanecendo em pé (em vez de se ajoelharem) na oração nas igrejas daqueles dias (Sobre Oração, cap. 23, SB no 1409g.)
No quarto século, as pretensas Constituições Apostólicas ensinavam que o sábado devia ser observado porque é o memorial da Criação e que os escravos deveriam trabalhar cinco dias por semana, para que no sábado e domingo pudessem ir à igreja. Ao mesmo tempo, Pseudo-Ignatius ensinava a observância de ambos os dias.
2. Hostilidade Para Com o Repouso no Sábado. A conversão de Constantino no quarto século e sua legalização do domingo como um dia de descanso (Veja Leis Dominicais) deram ao domingo uma vantagem, mas isso não proibiu a observância do sábado. A primeira proibição do descanso no sábado veio da própria igreja.
O Concílio de Laodicéia (data desconhecida, mas aproximadamente entre 343 e 381) ordenou aos cristãos repousarem no “Dia do Senhor” se possível, e proibiu o repouso no sábado. Ao mesmo tempo, este exigiu que os Evangelhos fossem lidos no culto público no sábado. Ele também estipulou que durante a Quaresma, o sábado e o “Dia do Senhor,” e somente esses dois dias, deveriam ser considerados dias semanais de festa.
No Egito, na mesma época, monges do novo movimento monástico realizavam serviços religiosos no sábado e no domingo — e somente nesses dias — a cada semana.
No fim do quarto século, dois líderes nascidos na Ásia Menor falaram elevadamente sobre o sábado e sobre o domingo: Asterius de Amasea, bispo de Ponto, falou de dois dias como uma bela dupla, “as mães e as enfermeiras” da igreja; enquanto Gregório de Nissa os chamava “irmãs”.
É notável que a igreja da Etiópia, fundada no quarto século, observava o sábado como um dia de completo repouso juntamente com o domingo.
No início do quinto século, Agostinho, no Norte da África, pregava no sábado e no domingo; e Epifânio de Constância observou que em certos lugares, realizavam-se assembléias no sábado e no domingo. Em meados do quinto século, o costume de realizar reuniões no sábado e no domingo era tão difundido que Sócrates de Constantinopla escreveu que eram feitas em “quase todas as igrejas do mundo” exceto, por causa de algumas “antigas tradições,” em Alexandria e em Roma.
Obviamente, é significativo que Sócrates tivesse que excetuar Roma e Alexandria. A hostilidade da Igreja Romana para com o sábado do sétimo dia era uma das características da igreja dos primeiros séculos, como evidenciada não somente por sua interrupção em realizar reuniões naquele dia, mas também por sua prática de degradar o sábado tornando-o um dia de jejum. Posteriormente, por volta de 600, o Papa Gregório I denunciou como pregadores do Anticristo os que ensinavam em Roma que não se devia trabalhar no sábado.
3. O Sábado em Séculos Posteriores. Há um vestígio de guarda do sábado nas Ilhas Britânicas no sexto século, no tempo de Columba (521-597 A.D.), que deixou a Irlanda e fundou uma comunidade religiosa longe da costa Oeste da Escócia, na Ilha de Iona.
Desde o fim do oitavo século ao décimo-segundo, floresceram os Athinganoi, “não toques,” da Frígia, na Ásia Menor, que eram acusados de não serem nem cristãos nem judeus porque observavam o sábado do sétimo dia, mas não praticavam a circuncisão. Os relatos de suas práticas hereges, que sugerem ligações com judeus de Catari, não são claros (Joshua Starr, “An Eastern Christian Sect: The Athinganoi,” Harvard Theological Review, abril de 1936).
No décimo-segundo século, numerosas seitas floresciam da Europa Ocidental. Um desses grupos, os Pasaginianos (Passagi, Pasagini), observavam o sétimo dia do sábado. Um documento católico de aproximadamente 1200 os descreve como —

opondo-se a nós em geral e em particular, quanto à observância do sábado, circuncisão, distinção de comida [os que mencionavam At. 16:28] e certas outras coisas (trad. de Summa Contra Haereticos, cap. 6 A, sec. 1; p. 92 na edição de J. N. Garvin e J. A. Corbett, vol. 15 de Publicações em Estudos Medievais.)
Os Pasaginianos foram mencionados pela primeira vez na condenação dos hereges pelo Sínodo de Verona sob o Papa Lucius III (1184), mas sem qualquer declaração de suas crenças e eles parecem ter sobrevivido até o décimo-terceiro século, quando Clemente IV (1267) e Gregório X (1274) dirigiram os inquisitores a fim de punir como hereges os cristãos que adotaram ritos judaicos. Alguns acham possível que a seita tenha-se originado dos contatos dos cristãos com os judeus (O. Zöckler, The New Schaff-Herzog Encyclopædia of Religious Knowledge, vol. 8, pp. 361, 362).
No século XV, havia guardadores do sábado na Noruega, e no século seguinte, na Suécia e na Finlândia. Os etíopes tinham continuado a prática de observar ambos os dias e foram privados do sábado após os jesuítas chegarem ao país por volta de 1600.
Alguns dos valdenses também observavam o sábado. Não há nenhum registro de guardadores do sábado entre os remanescentes que ainda sobrevivem nos Alpes no Norte da Itália, mas há um relato de alguns em um dos muitos grupos anteriormente bem difundidos na Europa que tinham o nome de valdenses. Entre os irmãos valdenses, formados por valdenses e hussitas, em que está a Tchecoslováquia havia alguns que observavam o sábado.
4. Observadores do Sábado na Europa. O sábado era discutido na Reforma — Eck escarnecia de Lutero sobre a mudança do sábado como um exemplo da autoridade da igreja, e Karlstadt, cooperador de Lutero, falou duvidosamente sobre o domingo. Ainda os reformadores mantiveram o domingo como o dia de repouso da igreja.
O Batistas do Sétimo Dia da Inglaterra, que provavelmente surgiram no fim do século dezesseis, foram severamente perseguidos pelos Protestantes e um de seus líderes, Francis Bampfield, morreu na prisão. A primeira Igreja Batista do Sétimo Dia foi estabelecida na América sob a liderança de Estevão Mumford, em 1671.
De acordo com Schwenkfeld, alguns dos Anabatistas proscritos pelos Reformadores que viviam em sua maioria na Alemanha, nos Países Baixos, Suíça, Morávia e Suécia, consideravam o domingo como invenção do Papa e denominaram a eliminação do sábado como “obra do diabo.” Na Hungria e Transilvânia, havia Sabatistas entre os Unitarianos (c. 1571). Em 1635, ordenou-se-lhes que se unissem às maiores confissões ou perderiam a vida e as propriedades. Na Escandinávia, alguns conselhos condenaram a observância do sábado como judaica e pagã.
Na Rússia, os Subotniki observavam o sábado desde o décimo-quinto século. No século XVIII, contavam-se aos milhares. Muitos sofreram perseguição no século XIX e centenas foram banidos para a Sibéria e Criméia. Alguns uniram-se exteriormente à Igreja Ortodoxa mas, interiormente, continuavam a crer no sábado. Observadores do sábado ainda sobreviviam na Rússia, bem como na Alemanha — Silésia, Württemberg, Hesse — até o século XX, e alguns se tornaram ASD (John Nevins Andrews e L. R. Conradi, History of the Sabbath, pp. 751, 752.)
O conde Nicolau de Zinzendorf observava ambos os dias, o sábado para descanso e o domingo para pregar o Evangelho. Spangenberg, sucessor de Zinzendorf, relata a respeito da visita do conde aos Morávios de Belém, Pensilvânia, em 1741: “Ele também resolveu, com a igreja de Belém, observar o sétimo dia como um dia de repouso” (August G. Spangenberg, The Life of . . . Count Zinzendorf, trad. Samuel Jackson, p. 302).
Anterior ao tempo de Spangenberg na Pensilvânia, nos condados de Lancaster, Nova Iorque e Bedford. Ele mantinham um comunidade em Efrata, no Condado de Lancaster, onde praticavam o lava-pés e a imersão trina, e uma ordem monástica.
V. O Sábado Entre os Adventistas. Durante o movimento Adventista da década de 1840, “a obrigação do sétimo dia como o sábado cristão” era discutida, por exemplo, por J. A. Begg, de Glasgow, Escócia, escritor de livros sobre o Segundo Advento, que escrevia cartas para o folheto Milerita The Signs of the Times. Mais tarde, ele se tornou batista do Sétimo Dia. Os Batistas do Sétimo dia da América, organizados como uma Associação Geral em 1802, com 1.130 membros, iniciaram a publicação do Sabbath Recorder. Quando aquele folheto chamou por um reavivamento do sábado no inverno de 1844-1845, foi lido por muitos Adventistas, e havia indivíduos entre os Mileritas antes “do desapontamento” de 22 de outubro de 1844, que tinham “suas mentes profundamente exercitadas a respeito de uma suposta obrigação de observar o sétimo dia (The Midnight Cry, 5 de setembro de 1844).
1. Observadores do Sábado em Washington, New Hampshire. A cidade de Washington, New Hampshire, é geralmente considerada como o lugar onde a observância do sábado foi pela primeira vez praticada por crentes adventistas. Em 1843-1844, a maioria dos membros da Igreja dos Irmãos Cristãos em Washington, New Hampshire, foi animada pela mensagem Milerita, e esperavam por “sua redenção.” Foi através da influência da Srta. Rachel Oakes (mais tarde Preston), uma Batista do Sétimo Dia, que distribuía publicações Batistas do Sétimo Dia entre eles, que o sábado foi trazido à atenção desse grupo. Frederick Wheeler, um ministro Metodista (e Adventista) que pregava nessa congregação, começou a guardar o sábado, de acordo com seu relato posterior, em março de 1844. Então vários da família Farnsworth e outros poucos aceitaram o sábado, e assim começou o primeiro grupo de Adventistas Sabatistas; isto aconteceu na primavera ou no verão de 1844, de acordo com relatos divergentes. No início, esses primeiros observadores do sábado adventistas aceitaram o sábado do ponto de vista da Igreja Batista do Sétimo Dia e somente em 1850, eles se tornaram parte de um pequeno grupo que ensinava o sábado como uma doutrina chave da “mensagem do terceiro anjo” (de Apoc. 14), que é o núcleo da IASD. Alguns anos mais tarde, o edifício da Igreja passou para as mãos desse grupo de observadores do sábado, que foi organizado como uma Igreja Adventista do Sétimo Dia em 1862.
2. Preble e Bates Escrevem Sobre o Sábado. T. M. Preble, um destacado ministro Milerita, que freqüentemente escrevia para folhetos adventistas, morava não muito longe de Washington, New Hampshire. É possível, embora não esteja comprovado, que ele tenha aprendido sobre o sábado através de um contato com alguém da Igreja Cristã de Washington. Seja como for, ele começou a guardar o sábado em meados de agosto de 1844. Seu artigo no Hope of Israel (Esperança de Israel), mais tarde reimpresso como um folheto, levou o assunto do sábado a muitos Adventistas.
O artigo de Preble convenceu José Bates de que nunca houvera nenhuma mudança no dia (José Bates, O Sétimo Dia, Um Sinal Perpétuo, agosto de 1846, p. 40). A declaração de Preble, “Portanto, vemos cumprir-se Dan. 7:25, a ponta pequena mudando os tempos e a lei,” impressionou-o singularmente, e o comentário de que “todos os que guardam o primeiro dia da semana pelo “sábado são guardadores do domingo do Papa!! e transgressores do sábado de Deus!!” (T. M. Preble, Folheto Mostrando Que O Sétimo Dia Deveria Ser Observado Como o Sábado, p. 10).
Tendo ouvido de pessoas em Washington, New Hampshire, que tinham começado a guardar o sábado, Bates viajou aproximadamente 225 km até Frederick Wheeler, e depois aos Farnsworth em Washington, New Hampshire. Então, em 1846, Bates apresentou a observância do sábado como ele a considerava em um folheto de 39 páginas intitulado Os Céus Abertos (publicado em maio), em que ele expressou sua profunda convicção de que a guarda do sábado era uma verdade bíblica (pp. 3, 35, 36). Mas seu mais efetivo testemunho veio em seu folheto de 48 páginas intitulado O Sétimo Dia, Um Sinal Perpétuo, que saiu em agosto de 1846 e provou-se poderoso instrumento na propagação da verdade do sábado. Como J. B. Cook, um eminente ministro Adventista comentou, escrevendo sobre o sábado no folheto de O. R. L. Crosier, The Day Dawn: “O folheto do Irmão Bates sobre o sábado é bom” (The Day Dawn, 16 de dezembro de 1846, citado na RH, agosto de 1851). Crosier aprendeu sobre o sábado com Bates, juntamente com Hiram Edson, mas observou-o apenas durante um curto tempo.
3. Tiago e Ellen G. White Aceitam a Verdade do Sábado. Possivelmente o primeiro contato que Ellen Harmon teve com o sábado foi em 1846 quando, juntamente com sua irmã e Tiago White, ela visitou José Bates em New Bedford, Massachusetts (José Bates, “Testemunho,” RH, 26/03/1861; também em Life Sketches, p. 95). Naquele tempo, eles não aceitaram as posições de Bates.
Tiago White e Ellen Harmon casaram-se em 30 de agosto de 1846, no mesmo mês em que o folheto de Bates apareceu. Os Whites receberam uma cópia e a evidência escriturística os levou a tomar a decisão. “No outono de 1846,” escreveu Ellen G. White, “começamos a observar o sábado bíblico, e a ensiná-lo e a defendê-lo” (I T,75). Havia então cerca de 25 Adventistas no Maine que observavam o sábado, e aproximadamente o mesmo número em outros lugares na Nova Inglaterra (I T, 77).
Deveria ser notado que a Sra. White guardou o sábado do sétimo dia antes de ter a primeira visão sobre o assunto:

Cri na verdade sobre a questão do sábado antes de ter qualquer visão a respeito do sábado. Foi somente meses após eu ter começado a guardar o sábado que foi-me mostrada sua importância e seu lugar na mensagem do terceiro anjo (Ellen G. White, Carta 2, 1874).
Essa visão sobre a importância do sábado veio à Srª. White no primeiro sábado de abril de 1847 (PE, 32-35), uns sete meses após os Whites começarem a guardar e ensinar o sábado. Ela enviou uma descrição das cenas dessa visão a José Bates em New Bedford em uma carta que ele publicou logo depois como um folheto. Portanto, falando genericamente, o sábado do sétimo dia chegou aos pioneiros ASD mediante fervoroso estudo da Bíblia e oração e somente mais tarde a visão corroborou sua crença.
Enquanto os Adventistas guardadores do sábado ainda não estavam organizados, eles começaram em 1848 a realizar uma série de congressos, que mais tarde vieram a ser conhecidos como “Congressos Sabáticos,” porque eram grupos de “amigos do sábado” reunindo-se “pelo interesse na Terceira Mensagem Angélica.” O primeiro foi convocado em Rocky Hill, Connecticut, no dia 20 de abril; outros foram realizados em Nova Iorque e na Nova Inglaterra. Vários pontos da doutrina foram estudados, especialmente o sábado e a terceira mensagem angélica (Apoc. 14:9-12), emergiram como parte básica da mensagem do Advento (Veja Três Mensagens Angélicas).
4. Tempo do Início do Sábado. O assunto do tempo do dia de sábado em que a observância deveria começar e encerrar-se ainda não estava definido. José Bates, tão destacado em advogar a observância do sábado, era da opinião de que “o sábado começa às 18:00 no que se chama sexta-feira” (José Bates, RH, abril de 1851). A diversidade de opiniões continuou por vários anos. Alguns eram favoráveis ao início do sábado às 6:00, mas Tiago White escreveu em 1855:
Nunca estivemos satisfeitos com o testemunho apresentado em favor das seis horas. ... O assunto tem-nos perturbado, embora não tenhamos achado tempo para investigá-lo completamente (Tiago White, RH, dez. de 1855).
Finalmente, John Nevins Andrews foi inquirido a investigar o assunto plenamente. Seu artigo, em que ele demonstrou por textos do N.T. e do A.T. que “tarde” significava pôr-do-sol (RH, dez. 1855), foi lido em uma “*Conferência Geral no ano de 1855. Como resultado, quase todos aceitaram sua conclusão sobre o assunto. Porém, José Bates e a Srª. White defenderam a idéia das seis horas. No fim da conferência, a Srª. White teve uma visão onde lhe foi mostrado que o sábado deveria começar ao pôr-do-sol e se encerrar ao pôr-do-sol. Sobre isso, Tiago White escreveu em 1868, “Isto decidiu o assunto para o irmão Bates e para os outros, e prevaleceu harmonia geral entre nós sobre esse ponto” (RH, fev. de 1868).
5. O Sábado e a Profecia. Quando os ASD adotaram a doutrina do sábado dos Batistas do Sétimo Dia, eles também adotaram a explicação dos últimos sobre o sábado sendo “mudado” para o domingo. Nos idos do século XVII, os Batistas do Sétimo Dia na Europa, tais como o Dr. Peter Chamberlen e outros, associaram a mudança do sábado à profecia da ponta pequena de Dan. 7 e à Babilônia mística, e à mulher vestida de escarlata e uma das bestas do Apocalipse (L. E. Froom, Prophetic Faith of Our Fathers, vol. 4, pp. 919, 908-916). Em 1847, a Sociedade Americana de Folhetos dos Batistas do Sétimo Dia republicou o livro A Defesa da Verdade, de George Carlow, uma defesa do sábado parcialmente baseada em fundamentos históricos, que tinham sido impressos originalmente em 1724 (Seventh-Day Baptists in Europe and America, 1910, vol. 2, pp. 1339-1341). Em 1852, a sociedade publicou um volume encadernado de 17 folhetos sobre o sábado, a maioria dos quais tinha sido publicada separadamente na década de 1840 ou antes.
O primeiro ASD a escrever sobre a história da mudança do sábado foi José Bates. (T. M. Preble, cujo artigo Esperança de Israel saiu antes, não era parte do grupo pré-ASD, e ele guardou o sábado durante pouco tempo.) Em seu livro O Sábado do Sétimo Dia, Um Sinal Perpétuo (1846), Bates expressou sua dívida para com Preble por certas informações; isto é, que a controvérsia sobre o sábado e o domingo tinha esquentado até o tempo do Papa Gregório I, e que Daniel 7 tinha previsto esses desenvolvimentos, questões que Preble tinha conhecido pelos Batistas do Sétimo Dia. Tiago White dedicou as 11 edições do Present Truth, durante 1849-1850, principalmente quanto à questão do sábado; nelas, ele republicou extensos extratos dos folhetos Batistas do Sétimo Dia números 4, 6, 7, 8 e 12.
A interpretação ASD das profecias relevantes logo avançou além daquela do primeiro editorial de The Seventh-Day Sabbath (1846). Bates não somente aplicava Dan. 7:25 à mudança do sábado (pp. 41, 42), bem como mencionava as três mensagens angélicas de Apoc. 14, e, em ligação à terceira, enfatizava a observância dos mandamentos de Deus — especialmente o mandamento do sábado — e a fé em Jesus (p. 24). Na segunda edição (prefácio datado de janeiro de 1847), ele definiu-se claramente ao defender o povo chamado pela terceira mensagem angélica como os que saíram das igrejas da Babilônia e guardam os mandamentos, incluindo o quarto, e que “têm-se unido em grupos pelos últimos dois anos, sobre os mandamentos e Deus e a fé e o testemunho de Jesus,” um remanescente perseguido guardando o verdadeiro sábado em distinção do falso sábado, “uma marca da besta” (pp. 58, 59). Mais tarde, no mesmo ano, ele discutiu Apoc. 14:12 mais extensamente em Marcas do Segundo Advento, páginas 68-79. Também em 1847, Tiago White relacionou o sábado à mensagem do terceiro anjo (A Word to the “Little Flock”, p. 11).
Bates escreveu em 1849 que durante um dos “congressos sabáticos,” em novembro de 1848, em Dorchester, Massachusetts, o grupo que estivera estudando alguns pontos da “mensagem do selamento” (Apoc. 7:2), uniu-se, através do testemunho da Srª. White, sobre o selo como representando o sábado (Um Selo do Deus Vivo, pp. 24-26).
Posteriormente, Bates acrescentou nova urgência ao estudo da Bíblia aplicando Apoc. 13:16 àquele “poder ímpio do qual o povo de Deus é chamado,” que “ decretará uma lei para o expresso propósito de fazer com que todos se prostrem e guardem o sábado do Papa” ou sejam proibidos de comprar ou vender (Um Selo, p. 37).
6. O Sábado Nas Primeiras Publicações ASD. Tão logo a obra de publicações iniciou, em julho de 1849, muitos artigos sobre o assunto do sábado apareceram nos periódicos e no fim daquele ano, o primeiro folheto, The Weekly Sabbath (O Sábado Semanal), foi lançado — uma reedição de 24 páginas dos artigos de Tiago White sobre o sábado, pretendidos como a primeira série de folhetos. Artigos subseqüentes foram semelhantemente publicados em folhetos, por exemplo, O Sábado do Sétimo Dia Não Abolido, uma réplica a Joseph Marsh (Present Truth, março de 1850).
Os primeiros artigos sobre o sábado, em Present Truth (Verdade Presente), o periódico ASD pioneiro (1849), e edições anteriores de seu sucessor, Review and Herald (Revista e Arauto, de 1850 em diante), trataram do assunto consideravelmente. Na primeira edição de Present Truth (julho de 1849), Tiago White provou que as passagens citadas das Epístolas de Paulo “para sustentar a doutrina anti-sabática” “não significam o que se lhes pretende significar; e não apresentam a última evidência para a abolição do sábado semanal.” Comentando sobre Gál. 5:4, ele pergunta se os oponentes do sábado realmente crêem no que afirmam baseados nesse texto — que uma pessoa está fora da graça quando observa o quarto mandamento do Decálogo — e se estamos fora da graça quando guardamos os outros nove. Na segunda edição, ele se propôs “mostrar que há perfeita harmonia em todo o testemunho das Escrituras de ambos os Testamentos em relação à observância do Santo Sábado,” e citou Luc. 23:54-56 para a observância no N.T.. “Jesus despiu as tradições com as quais os cegos judeus tinham coberto o sábado,” ele escreveu, “e as deixou nuas sobre Sua própria e eterna a base, o quarto mandamento” (ibid., ago. 1849).
No terceiro número de Present Truth, Tiago discutiu o sábado como ensinado e reforçado no N.T., citando Mat. 24:20 como estabelecendo a validade do mandamento do sábado três décadas depois da crucifixão. Do grande apóstolo aos gentios, ele disse:
Os advogados anti-sábado fazem de Paulo um dos homens mais inconsistentes que já pregou o Evangelho; pois dizem que ele ensinou a abolição do sábado aos gálatas, romanos e colossenses; e ao mesmo tempo estava pregando aos judeus e gentios, não somente nas sinagogas, mas em qualquer outro lugar em cada sábado! Os judeus nunca acusaram Paulo por desviar-se da letra da lei do sábado. Esta é uma forte evidência de que ele guardou-o estritamente. Todos sabemos que se o apóstolo tivesse ensinado a abolição do sábado, os judeus teriam-no acusado por transgressão do sábado; pois eles buscavam acusações contra ele (ibid., ago. de 1849).
Quanto ao relativo silêncio do N.T. a respeito da observância do sábado, ele salientou:
Não havia necessidade de reforçar a lei do sábado, pois não havia sido violada no tempo dos apóstolos, como os outros mandamentos o foram. A única razão natural por que os apóstolos não repreenderam o pecado da transgressão do sábado é que esse pecado ainda não existia na Igreja primitiva (Ibid.)
Justificando a ênfase ASD sobre o sábado do sétimo dia, Tiago referiu-se a Is. 58:12, 13 como apontando em direção à restauração do sábado no “fim do tempo,” e escreveu:
Vemos que a poderosa obra de reparar a brecha na lei de Deus, ensinando e observando o sábado, que tem sido há tanto pisado a pés, pertence exatamente ao hoje, pouco antes que os quatro anjos soltem os quatro ventos, que o Israel de Deus possa guardar toda a lei e seja selado com o selo do Deus vivo, que os capacitará a “subsistir na batalha do dia do Senhor.”
A razão por que temos mais a dizer sobre o mandamento do sábado do que sobre os outros nove é porque esse é aquele que é desprezado (ibid., set. 1849).
Ele respondeu à questão “Você crê que há salvação no sábado?” com a explicação:
Não cremos que haja salvação no sábado mais do que nos outros mandamentos. A salvação vem através de Jesus Cristo nosso Senhor. Deixe-me perguntar-lhe algo, leitor. Você crê que podemos ter salvação em Jesus enquanto violamos todos ou qualquer um dos mandamentos? Você responde que não. Nem poderá você ter salvação através de Jesus se você rejeitar a clara luz do Santo Sábado (The Advent Review, set. 1850).

VI. A Observância do Sábado. Prática. Os ASD baseiam suas idéias de observância do sábado nas Escrituras. Deus descansou no sétimo dia (Gên. 2:2, 3) e ordenou semelhante repouso para o povo no quarto mandamento (Êx. 20:8-11). Mais especificamente, a respeito da maneira de descanso, Isaías exortou para que o povo se abstivesse de fazer sua própria vontade e falar suas próprias palavras no sábado, ele seria um deleite e santo ao Senhor (Is. 58:13, 14). O espírito da verdadeira observância do sábado foi enfatizado por outros profetas. Cristo sempre enfatizou os princípios espirituais envolvidos na verdadeira observância do sábado, declarando que é lícito fazer o bem e curar no sábado (Mat. 12:8-14; Mar. 2:23-28).
A Igreja ASD enfatiza os aspectos positivos da observância do sábado. Enquanto há um claro e definido entendimento do que é apropriado ao sábado, os ASD observam o dia em um espírito de adoração e devoção de coração e não legalisticamente como um meio de favor divino.
Os ASD iniciam o sábado na sexta-feira à tarde, ao pôr-do-sol e encerram-no no pôr-do-sol, na tarde de sábado (Veja sec. V, 4). Eles crêem que cada momento entre esses pontos de tempo é um tempo consagrado, santo, e procuram guardar zelosamente os limites do sábado. Como no N.T. (Mar. 15:42), a sexta-feira é freqüentemente referida como “dia de preparação” por que, como a expressão sugere, nela se faz preparação para o sábado.
O Manual da Igreja dá o seguinte conselho a respeito da observância do sábado:

A sagrada instituição do sábado é um penhor do amor de Deus ao homem. É um monumento comemorativo do poder de Deus manifestado da Criação original e também um sinal de Seu poder de recriar e santificar a vida (Ez. 20:12), e sua observância é uma prova de nossa fidelidade a Ele. A devida observância do sábado é uma prova de nossa fidelidade ao Criador e de nossa comunhão com nosso Redentor. Em sentido especial, o sábado é uma prova de obediência. A menos que, individualmente, possamos ser nela provados, como podemos, de maneira apropriada, apresentar ao mundo a mensagem do sábado?
As horas do sábado pertencem a Deus, e somente para Ele devem ser usadas. Nosso próprio deleite, nossas próprias palavras, nossos próprios negócios, nossos próprios pensamentos, não devem encontrar lugar na observância do dia do Senhor. (Is. 58:13). Reunamo-nos, ao pôr-do-sol, no seio da família e, com oração e cânticos, demos boas vindas ao santo sábado, e terminemos o dia com oração, ações de graça por Seu maravilhoso amor. O sábado é um dia especial para o culto no lar e na Igreja, um dia de gozo para nós mesmos e para nossos filhos, dia em que aprendemos mais de Deus por meio da Bíblia e do grande compêndio na Natureza. É um tempo oportuno para visitar enfermos e trabalhar pela salvação de almas. Os assuntos comuns dos seis dias úteis devem ser postos de lado. Nenhuma tarefa desnecessária deve realizar-se. As leituras seculares, ou as transmissões de rádio seculares não nos devem ocupar o tempo do santo dia de Deus.
“O sábado não se destina a ser um período de inútil inatividade. A lei proíbe trabalho secular no dia de repouso do Senhor; o labor que constitui o ganha-pão, deve cessar; nenhum trabalho que vise ao prazer ou proveito mundanos é lícito nesse dia; mas como Deus cessou Seu labor de criar e repousou ao sábado, e o abençoou, assim deve o homem deixar as ocupações da vida diária e devotar essas sagradas horas a um saudável repouso, ao culto e às boas obras.” (DTN, p. 186).
Um plano de atividades devidamente dirigido em conformidade com o espírito da verdadeira observância do sábado, fará que este dia bendito seja o mais feliz e o melhor de toda a semana, para nós e para nossos filhos, um verdadeiro gozo antecipado de nosso repouso celestial. (Ed., pp. 174, 175)
O sábado, então, é considerado um sinal do amor de Deus ao homem, um memorial de Seu ato criativo, e um sinal de Seu poder de recriar a vida espiritual do homem. A própria observância do sábado é uma evidência da lealdade e obediência a Ele.
O Sábado e a Linha Internacional de Datas. Há um problema real, embora um tanto não freqüente, na observância do sábado (e semelhantemente na observância do domingo) para alguém que cruza a Linha Internacional de Datas no meio do Pacífico. Os que vivem perto da linha, não têm problema; eles guardam o sábado normalmente. Os que cruzam a linha ou consideram que realmente começou um novo dia, em harmonia com a localidade em que chegam, ou fazem seus próprios ajustes. Em navios, é costume do capitão anunciar a mudança de data quando ocorre na meia-noite anterior ou na meia-noite posterior à passagem da linha, independente do exato tempo da passagem, e escolher entre essas alternativas para evitar a perda ou a repetição de um domingo ou feriado. O viajante ASD pode então, sobre o mesmo princípio, fazer seu próprio ajuste pessoal; a Oeste, ele pode completar a observância do sábado como a iniciou preferivelmente a anulá-la, ou iniciar o sábado no pôr-do-sol anterior para completá-la ao mesmo tempo em que os habitantes da área à qual ele está indo. A Leste, ele pode ajustar sua mudança de data inversamente para observar um sábado em vez de dois ou três sucessivos.
Observância do Sábado no Ártico. Outro problema, mais aparente do que real, é a determinação do pôr-do-sol em partes do mundo onde o sol, em certas estações, brilha a noite toda ou não aparece absolutamente. Os povos das latitudes temperadas estão acostumados ao fato de que o pôr-do-sol varia de 15:00h ou 16:00h no inverno a 21:00h ou 22:00h no verão. Em lugares próximos ao Círculo Ártico (ou Antártico), a variação é similar, mas varia de meio-dia no solstício de inverno até meia-noite no solstício de verão.
Perto do solstício de verão, o sol se põe no horizonte setentrional pouco antes da meia-noite e nasce pouco após a meia-noite. Finalmente, quando o sol volta à meia-noite, é somente um mergulho no horizonte para logo depois nascer. Por vários dias (variando de acordo com a latitude), o mais profundo “mergulho” ocorre a cada meia-noite, mas o sol nunca desce abaixo do horizonte. Mais tarde, o mergulho da meia-noite o leva pouco abaixo do horizonte e vê-se novamente o sol inteiro. Assim, no verão, o último pôr-do-sol visível e o primeiro amanhecer visível, várias semanas depois, ocorre à meia-noite. Então o pôr-do-sol ocorre mais cedo a cada noite no outono, e posteriormente em direção ao Sul, até que, próximo ao solstício de inverno, ele se põe logo após o meio dia, e finalmente um dia mostra apenas sua borda sobre o horizonte sul e desaparece — o nascer e o pôr-do-sol ocorrem ao meio-dia. Após isso, por algum tempo, o sol vem a cada meio-dia ao seu zênite, e desce imediatamente — não visível, porque está abaixo do horizonte, mas por algum tempo mostrando um brilho a cada meio-dia. Então, num meio-dia, sua orla aparece e se põe imediatamente — um pôr-do-sol visível novamente. Portanto, no inverno, o último pôr-do-sol visível e o primeiro nascer-do-sol visível ocorrem ao meio-dia. Após isso, o nascer-do-sol ocorre mais cedo a cada dia antes do meio-dia. Assim, o ciclo de pores-de-sol muda, mas o sábado não se perde.

SÁBADOS ANUAIS (Cerimonial).

Dias especiais de descanso em ligação com o ciclo anual de festas, não relacionado ao sábado do sétimo dia ou ao ciclo semanal. Cada um destes outros sábados ou sobre um dia diferente da semana de um ano para outro. São propriamente chamados de sábados anuais, em contraste com o sábado semanal. Estes dias, nos quais o trabalho era proibido “além dos sábados do Senhor” (Lev. 23:38), eram:

15o dia, 1o mês. - 1o Dia dos Pães Asmos (Lev. 23:67).
21o dia, 1o mês. - 7o Dia dos Pães Asmos (Lev. 23:8).
6o dia, 3o mês. - Dia de Pentecostes (Lev. 23:16, 21).
1o dia, 7o mês. - Festa das Trombetas (Lev. 23:24, 25).
10o dia, 7o mês. - Dia da Expiação (Lev. 16:29-31).
15o dia, 7o mês. - 1o dia da Festa dos Tabernáculos (Lev. 23:24, 35).
22o dia, 7o mês. - 7o dia da Festa dos Tabernáculos (Lev. 23:36).

Em seu monumental trabalho History of The Sabbath, o erudito ASD, J. N. Andrews estabeleceu várias razões para se fazer distinção entre estes sábados anuais e o Sábado do Sétimo dia do ciclo semanal. Os sábados anuais, salienta, ele, eram parte do sistema cerimonial que apontava para a vida e morte de Cristo, e pararam de ter significado quando Ele expirou na cruz. Além disso, salientou ele, finalmente, o completo ritual de observância destes sábados anuais decaiu com a permanente cessação dos serviços do Templo na destruição de Jerusalém em 70 A.D. (1862, pp. 87-92).
Isto, logicamente, não se originou com Andrews. Ele mesmo citou a passagem de Guilherme Miller (p. 878), e provavelmente Miller emprestou a idéia de algum escritor protestante anterior a ele; pois credos protestantes-padrões declararam que os Dez Mandamentos não foram abolidos. Na primeira publicação do primeiro periódico ASD, Tiago White respondeu à objeção com o argumento de que o sábado não é uma “sombra” (Present Truth, agosto de 1849), também em grande escala, citando os vários sábados cerimoniais (ibid., Ms 1850).
Enquanto o sábado semanal foi ordenado no fim da Criação para toda a humanidade, os sábados anuais eram uma parte integral do sistema judeu de ritos e cerimônias instituídas no Monte Sinai, que pertenciam exclusivamente ao povo hebreu nos tempos do A.T., que apontavam para o Messias vindouro, cuja observância terminou com sua morte de cruz.

LEI E GRAÇA


Introdução


Infelizmente, membros de Igrejas Evangélicas e até estudantes de Teologia de certas faculdades crêem firmemente que a lei se opõe à graça.

Anote estas declarações:

"Pondo o assunto em seu devido lugar, somente quando a lei é feita um meio de salvação, entra ela em choque com os princípios da graça. A lei destina-se a revelar o pecado; a graça destina-se a salvar do pecado. Nenhum conflito pode existir entre ambas."1

Os dispensacionalistas, contrariando o ensino bíblico, têm defendido duas épocas distintas: dispensação da lei – Velho Testamento e dispensação da graça – Novo Testa mento.

A finalidade deste estudo é harmonizar a lei com a graça, colocando cada uma em seu devido lugar.


Comentários Gerais


I. Que é Lei?

Na Bíblia, a palavra é empregada com múltiplos significados.

a) Designa o Pentateuco. Luc. 24:44.

b) A lei dada a Moisés no Monte Sinai. Rom. 5:13; Gál. 3:17,19.

c) É empregada no sentido de expressão da vontade de Deus e do Seu caráter justo e santo. Rom. 3:20; 7:12; I Tim. 1:8; Tiago 1:25.


Em outras palavras: é a expressão do caráter de Deus em termos humanos.

Como igreja cremos nesta tríplice finalidade da lei.


1º) Ela nos mostra o pecado ou convence-nos de que somos pecadores. "Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado." Rom. 3: 20.

2º) Guia o pecador a Cristo. Efés. 4:24-25.

3º) Será a norma do juízo. Tiago 2:12.

As leis são as normas estabelecidas por Deus para que por elas pautemos a nossa vida.



II. O que é Graça?

a) Favor imerecido. Dádiva a que se não faz jus.

b) É uma qualidade intrínseca de Deus, que brota do Seu amor por nós, levando-o a fazer tudo em nosso favor a fim de que possamos ser salvos.

c) É a fonte de nossa salvação. "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." Efés. 2:8.

d) "Graça é a mão de Deus que se estende em direção a Terra. Fé é a mão do homem que se ergue para pegar a mão de Deus." – Dicionário Adventista.

e) É a aceitação do homem por parte de Deus.

"A graça divina, eis o grande elemento do poder salvador; sem ela, todo o esforço humano é inútil." – CPPE, pág. 487.

f) Elemento divino que nos dá poder para obedecer á lei de Deus.

"Sem a graça de Cristo é impossível dar um passo em obediência à lei de Deus." – Selected Messages, vol. 1, pág. 372.

g) "A graça é uma qualidade que dá ao homem a força de executar as exigências de Deus." Lutero.


Os Adventistas e a Lei


Como igreja já fomos acusados de crermos na justificação pela obediência à lei.

É uma realidade inegável, que antes de 1888 nossos pregadores encareciam muito a lei de Deus, mas após a Conferência Geral de Mineápolis graças à atuação segura de Ellen G. White e os estudos dos pastores Waggoner e Jones passamos a encarecer a Justificação pela Fé.

A acusação de crermos que somos salvos pela guarda dos mandamentos é infundada. Ninguém poderá provar através de nossas sermões e de nossa literatura esta idéia antibíblica.

A rica bibliografia adventista confirma que jamais atribuímos à lei uma função salvadora. Nossa posição quanto aos Dez Mandamentos é esta: São grandes preceitos morais, imutáveis, obrigatórios a todos os homens, em todas as épocas. Êxo. 20:1-17.

Aceitamos a declaração do eminente teólogo batista, Strong, em sua Teologia Sistemática, pág. 538:

"A lei de Deus é, por conseguinte, simplesmente uma expressão da natureza divina, em forma de reivindicações morais."

No parágrafo oitavo, das Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia se encontra:

"O homem é justificado, não pela obediência da lei, mas pela graça que há em Cristo Jesus. Aceitando a Cristo, é ele reconciliado com Deus, justificando por seu sangue quanto aos pecados cometidos no passado e salvos do poder do pecado pela permanência de Sua vida nele."

A seguinte declaração de Santo Agostinho é oportuna: "Pela lei tememos a Deus, pela graça confiamos nele."


O Legalismo e a Guarda dos Mandamentos


Nos dias de Paulo havia três erros concernentes à lei e à graça, erros esses que têm perdurado até os nossos dias. Esses erros são:


1º) O Legalismo – É o ensino que somos salvos pelas obras, observando cerimônias e preceitos da lei. O livro de Romanos refuta esse erro.

2º) O Antinomianismo. Ensina que se somos salvos pela graça, não faz diferença alguma como vivemos e nos conduzimos.

A epístola de Tiago é uma resposta a este erro doutrinário.

3º) O galacianismo. É o ensino que somos salvos pela graça, mas, após isto, somos guardados pela lei. Em outras palavras: Somos salvos pela fé e obras. Paulo guiado pelo Espírito Santo escreveu a carta aos Gálatas combatendo esta heresia. Ver Novo Testamento Interpretado, de Russel Norman Champlin, 4º vol. pág. 435.


Deploravelmente, há muita gente entre nós não sabendo distinguir o legalismo da guarda dos mandamentos. Legalismo não é guardar a lei, obedecer a Deus, mas guardar a letra da lei para obter méritos diante de Deus. Legalismo é o mau uso da lei.

A obediência é necessária, mas depender de nossa obediência para a salvação é totalmente contrária ao espírito do evangelho.

Os judeus afirmavam que Jesus não interpretou bem a lei, quando sabemos que Ele é o verdadeiro intérprete da lei.

Nossa atitude para com a lei deve ser a que Cristo teve, como está relatada na profecia messiânica de Isaías 42:21 – "Foi do agrado do Senhor, por amor de sua própria justiça, engrandecer a lei e fazê-la gloriosa."


Hal Lindsey na obra Satan is Alive and Well on Planet Earth, pág. 163, escreveu:

"Se procurarmos ser justificados como crentes pela obediência a qualquer lei, negamos o poder de Cristo em nossa vida. Isto é o que Paulo afirma em Gál. 5:1-5.

"Obediência é o resultado de um relacionamento espiritual com Cristo e não o meio para alcançar esse relacionamento."


Ellen G. White escreveu:

"Há dois perigos contra os quais os filhos de Deus – particularmente aqueles s que só há pouco aceitaram Sua graça – devem, especialmente, evitar. O primeiro. . . é o de considerar as próprias obras, confiando em qualquer coisa que se possa fazer, a fim de se colocar em harmonia com a vontade de Deus. Aquele que procura se tornar santo por suas próprias obras, guardando a lei, tenta o impossível. Tudo que o homem possa fazer sem Cristo está poluído de egoísmo e pecado. . . .

"O erro oposto e não menos perigoso é o de que a crença em Cristo isenta o homem de guardar a lei de Deus, considerando que somente pela fé é que nos tornamos participantes da graça de Cristo e que as obras nada têm que ver com nossa redenção." – Caminho a Cristo, págs. 59-60.


O Bispo Hopkins ensinou:

"Pregar a justificação pela lei, como um concerto, é legalismo e torna sem efeito a morte e os méritos de Jesus Cristo. Mas pregar a obediência à lei como regra, é evangélico."

Paulo e a Lei


Há algumas expressões paulinas que são mal compreendidas porque não são explicadas de acordo com uma exegese correta.

Paulo escrevendo a Timóteo (I Tim. 1:8) expôs a sua concepção sobre a lei. "Sabemos, porém, que a lei é boa se alguém dela se utiliza de modo legitimo." A tradução da The New English Bible transmite bem a idéia do original: "A lei é uma excelente coisa, contanto que a consideremos como lei".


I. "Morrer para a Lei"

Em Rom. 7:4-6 ele declara que morremos para a lei e fomos dela libertados.

Em Gálatas 2:19 afirma: "Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. .."

O contexto e outros princípios exegéticos nos informam que as expressões: "morrer para a lei" e "ser libertados da lei" significam o seguinte: O laço que nos ligava à lei como caminho para ser aceito por Deus tem que ser quebrado.

Notem a declaração do comentarista Stamm: "A morte para, a lei significa deixar de obedecer á lei como meio que nos assegura a boa vontade divina."

Morrer para a lei, jamais quis significar que não temos mais a obrigação de guardar a lei, mas sim morrer para a lei como meio de justificação.

"Quem procura alcançar o céu por suas próprias obras, guardando a lei, tenta uma impossibilidade." – Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 364.


Os fariseus ensinavam que a "Torah" encerra os elementos da vida dos judeus; todos quantos lhe obedecessem viveriam, e aqueles que lhe fossem desobedientes morreriam. (Ver Deut. 30:11-20).

Com a expressão "morrer para a lei" Paulo fazia referências ao rompimento da crença que a guarda da lei era o caminho para nossa aceitação perante Deus.


II. "Não estais debaixo da lei"

Muitos evangélicos citam a expressão de Paulo: "não estamos debaixo da lei" (Rom. 6: 14-15; Gál. 5:18), querendo significar que a lei moral foi abolida.

Os adventistas ensinam que "debaixo da lei' significa "debaixo da condenação da lei". Não estar debaixo da lei não quer dizer estar desobrigado de cumpri-la, mas sim não ser culpado de sua transgressão. A única maneira de não estarmos debaixo da lei é cumpri-la. Se transgredimos uma lei, incorremos em multa, prisão, ou qualquer punição enfim.

A lei nos informa o que devemos fazer, a graça nos lembra que devemos aceitar a Cristo, porque Ele nos capacita a cumprir as exigências da lei. A graça divina não erradica a lei dando ao homem licença para pecar. Isto é amplamente expresso em Romanos 6-8.

O que Paulo fez foi condenar terminantemente crenças errôneas dos judeus como as seguintes: a lei para ele era equivalente ao plano divino para a salvação do mundo; o homem era aceito por Deus guardando os seus mandamentos.


III. "Sem lei se manifestou a justiça de Deus" Rom. 3:21.

Com esta declaração Paulo tinha em mente a justiça independente das obras da lei, dos méritos humanos.


IV. "O Sábado findou na cruz"

O Sr. Walter Martin, no livro The Truth About Seventh Day Adventism afirma que o sábado como lei se cumpriu, não sendo mais obrigatório aos cristãos. Na página 161 ele afirma: "Em mais de um lugar, o Novo Testamento comenta desfavoravelmente sobre a prática de qualquer tipo de observância legalista de dias", acrescentando mais adiante que "o apóstolo Paulo ensinou que o sábado, assim como a lei se cumpriu na cruz e não era obrigatório aos cristãos."

Em defesa de suas afirmações cita textos do Novo Testamento, sendo o primeiro deles Col. 2:13-17. A explicação para este texto bíblico se encontra em nossa apostila: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia.

Poucos versos do próprio Paulo são suficientes para provar que ele jamais foi contra a lei.

Rom. 3:31 – "Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei."

Rom. 7:12 – "Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo e justo e bom."

A. R. Vidler, em seu livro Natural Law, pág. 25, escreveu:

"A lei é de utilidade aos crentes como um padrão de obediência a Deus, na vida de fé, por meio da qual os frutos do Espírito possam surgir."


Aparente Contradição de Paulo


"O objetivo da Epístola aos Romanos, comparado com o da Epistola aos Gálatas, explica uma aparente contradição entre as duas cartas: Numa, é permitida a observância dos dias (Rom. 14:5); noutra, é proibida (Gál. 4:10-11). A permissão é a favor dos judeus convertidos, que tinham escrúpulos de consciência com respeito a pôr de parte certos preceitos da Lei em que tinham sido educados. A proibição é para os gentios convertidos, aos quais os judaizantes ensinavam que só podiam ser salvos praticando o ritual judaico. Essa observância, com o fim de salvação, devia ser, portanto, condenada."2

Se aqueles que crêem que Paulo se opõe à lei moral em Gálatas (4: 9-11) atentassem para o contexto desta carta jamais chegariam a esta conclusão. O contexto de Gálatas é claro em informar-nos que Paulo a escreveu porque membros das igrejas da Galácia, influenciados por mestres judaizantes pensavam que poderiam ser salvos cumprindo as obras e minúcias do judaísmo (Gál. 2:16; 3:1-6). Paulo insiste que ninguém pode ser salvo por suas próprias ações, desde que a salvação é dom gratuito de Deus.


The Interpreter's Bible, vol. X, págs. 429-443, na Introdução ao Livro de Gálatas, "salienta que Paulo queria livrar os crentes do conceito errado de que eles poderiam ser salvos observando a lei mosaica; esclarecendo-os também de que não deveriam guardar a lei dos Dez Mandamentos visando conquistar méritos diante de Deus para sua salvação."

Paulo dá ênfase a esta verdade fundamental: já lhes mostrei que ensinamentos da lei, visando dirigir a atenção dos homens para a vinda de Cristo, e tendo este cumprido Sua missão, não deveriam mais ser observados na dispensação cristã.


Antes de concluir são úteis ainda mais alguns pensamentos esclarecedores:

"Sob o Evangelho ficamos libertos do jugo da lei cerimonial e da maldição da lei moral. . . A lei moral não foi senão para a localização da ferida, e a lei cerimonial serviu como sombra precursora do remédio: Cristo, porém, é o fim de ambas."3

"A graça não importa em liberdade para pecar, mas numa mudança de senhores, e uma nova obediência e serviço. A graça não anula a santa lei de Deus, mas unicamente a falsa relação do homem para com ela."4


"A graça não elimina a obediência, mas antes torna-a imperiosa (Rom. 1:5 e 6:17)5

Paulo prevê esta objeção à doutrina da salvação pela graça por meio de nossa fé em Cristo. Se a salvação é "à parte da lei", então a lei é inútil. A resposta de Paulo é esta: A função da lei não é livrar do pecado, mas revelar o pecado.


Definindo a relação entre a lei e a graça disse Agostinho:

"A Lei é dada para que a Graça possa ser exigida; a Graça é concedida para que a Lei possa ser cumprida."


Strong diz com convicção:

"A graça, contudo, não deve ser entendida como se ab-rogasse a lei, mas sim como reafirmando-a e estabelecendo-a (Rom. 3:21)."

Para a nossa salvação devemos aceitar a graça de Deus, e pelo nosso viver devemos exaltar a Sua Santa Lei.




Referências:

1. Our HopeRay C. Stedman. Citado no Ministério Adventista, julho/agosto, 1962, pág. 20.

2. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, Joseph Angus, pág. 150.

3. Comentários das Escrituras de Mateus Henry (autor presbiteriano).

4. Word Studies in the New Testament, vol. III, pág. XI. Vincent.


5. Comentário de Russell Norman Champlin sobre Efés. 2:8 em O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo